São Paulo, sábado, 9 de março de 1996
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Vamos ao que interessa

PEDRO PIVA

A instalação de uma CPI dos bancos a esta altura corre o risco de abalar não só o sistema financeiro, mas toda a economia nacional.
As atividades de uma CPI dessa natureza gerariam fatos políticos diários capazes de perturbar o andamento da vida econômica do Brasil. Seus efeitos atingiriam não só os bancos, mas inevitavelmente provocariam repercussões nefastas no setor produtivo, no comércio e, em última instância, no próprio mercado de trabalho.
A CPI dos bancos seria a CPI da instabilidade. Desencadearia uma crise de confiança na moeda -bem público a ser resguardado pelas instituições do Estado e defendido pela cidadania.
Poderia ainda significar golpe implacável no sentimento de confiança que o Brasil vem consolidando junto aos investidores estrangeiros, pondo em risco o fluxo crescente de capitais internacionais que se dirigem para cá, a fim de exercitarem atividades produtivas. Afinal, quem teria a coragem de investir num país que coloca em xeque seu próprio sistema financeiro?
A instalação da CPI também atrasaria o andamento das reformas, essenciais para que o país dê um salto de desenvolvimento e, por consequência, melhore a distribuição de renda, ponha fim à miséria, aprimore a justiça social.
Não fazer as reformas é atrasar a modernização do Brasil. Fazer CPI é virar as costas às reformas. Mas evitar a CPI não significa compactuar com fraudes e desmandos do sistema bancário. É absolutamente necessário punir os culpados pela malversação do dinheiro do depositante.
Por isso mesmo deve-se ter em conta que o Senado, como a Câmara e o próprio Congresso Nacional, não têm poderes para punir ninguém criminalmente. O máximo que uma CPI dos bancos pode fazer é enviar suas conclusões ao Ministério Público e pedir as providências cabíveis.
Ora, se é para oficiar ao Ministério Público, o próprio Banco Central pode fazê-lo. E, com certeza, o fará nas próximas semanas, assim que forem concluídos os trabalhos da sua comissão de inquérito que apura as fraudes bancárias. Comissão que vem agindo com extremo rigor e rapidez possível.
O que a nação reclama é que não se fuja à responsabilidade, que as culpas não sejam dissimuladas, que tudo, como se diz, "não acabe em pizza". Contra essas hipóteses temos de confiar na determinação do presidente do Banco Central, Gustavo Loyola.
Sobre o rigor da apuração paira ainda o aval do presidente Fernando Henrique Cardoso, cuja correção pessoal e honestidade pública são inquestionáveis. Nada macula a vida profissional e a carreira política do presidente da República, comandante que é do projeto de construção de um Brasil moderno e mais justo.
No momento em que o processo de estabilização consegue conter a inflação em 0,4% ao mês, falar em CPI dos bancos e vibrar com o repúdio à reforma da Previdência significa festejar a derrota do país, não do governo.
Mais do que nunca precisamos criar empregos, distribuir renda, combater a exclusão social. Precisamos entrar no próximo milênio na condição de país em desenvolvimento acelerado, deixando para trás as mazelas de uma economia engessada e a mancha de indicadores sociais vergonhosos.
Com certeza não será por meio de uma CPI, com apoteoses verbais, dramatizações de gosto duvidoso e delírios investigativos sem consequência, que chegaremos lá.

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