São Paulo, domingo, 10 de março de 1996
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Investigações sobre a Universal estão lentas

DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DO RIO; DA REDAÇÃO

Enquanto a Igreja Católica engatinha para montar sua rede de TV, a Igreja Universal do Reino de Deus, ocupa o terceiro lugar no ranking de concessões próprias do país. São 14 emissoras.
Os negócios televisivos do bispo Edir Macedo, no entanto, estão sob investigação do Ministério Público Federal (MPF). O ritmo da apuração é bastante lento.
A Universal só perde em número de concessões próprias de TV para as famílias Marinho (Globo) e Sirotsky (RBS). A primeira tem 17, a segunda, 16.
A igreja de Macedo começou a montar sua rede de televisão em 1989, quando comprou, por US$ 45 milhões, as três emissoras da Record no Estado de São Paulo.
Só em 1995 a igreja adquiriu oito emissoras, investindo US$ 30 milhões. Ela se prepara para comprar pelo menos mais cinco emissoras neste ano -em Brasília, Belém, Recife, Fortaleza e Natal.
Os negócios da Universal enfrentam investigações desde a compra da Rede Record.
A suspeita de sonegação, aliada à divulgação de uma fita de vídeo em que pastores ensinam "como ganhar dinheiro", desencadeou, no final do ano passado, uma grande investida da Polícia Federal (PF) sobre as empresas da igreja.
A Polícia Federal no Rio instaurou, em dezembro, inquérito para apurar se dirigentes da Igreja Universal praticaram crimes contra o sistema financeiro e a ordem tributária.
Esse inquérito, no entanto, caminha lentamente. Ao pedir a prorrogação do prazo de conclusão do inquérito, a PF nem sequer tinha feito constar dos autos informações básicas como a lista de templos e os nomes de seus responsáveis.
O inquérito foi requisitado pelo MPF, após a exibição, na Rede Globo, de imagens em que membros da igreja discutiam formas de tirar dinheiro dos fiéis.
Desde o final de fevereiro, o delegado que preside o inquérito, Matheus Casado Martins, tem 90 dias para concluir as investigações.
Mas não há prazo, por exemplo, para a conclusão de uma etapa importante da apuração dos negócios comandados pelos dirigentes da Universal: as análises das contas bancárias e fiscais de empresas e pessoas que seriam ligadas à igreja.
A Justiça determinou, no início de janeiro, a quebra dos sigilos bancário e fiscal de pessoas e empresas, como o bispo Honorilton Gonçalves, a TV Record do Rio e o Banco de Crédito Metropolitano.
Mas não foi estabelecido prazo para a conclusão das análises pelo Banco Central e pela Receita Federal. A assessoria de imprensa da Receita no Rio, por exemplo, informa que uma tarefa dessa envergadura pode levar até dois anos.
No campo documental, porém, já foi perdida uma chance de obter informações sobre a vida contábil de seis empresas investigadas.
Por decisão judicial, foram apreendidas, em 12 de janeiro, 70 caixas de documentos da holding que controla os negócios da Universal no Brasil e no exterior, a LM Consultoria Empresarial.
Mas em 24 de janeiro, a pedido do advogado Evaristo de Moraes Filho, o Tribunal Regional Federal mandou devolver os documentos -que foram entregues sem que o Ministério Público Federal e a Justiça tivessem feito alguma análise.
Outra investigação em andamento apura suspeita de irregularidade na compra da TV Rio, por USŸ 20 milhões, pela Universal. Seis pessoas são suspeitas de sonegação fiscal e de terem atuado como testas-de-ferro na negociação.

Colaborou a Redação

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