São Paulo, domingo, 10 de março de 1996
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Múltis criam 20,6 mil empregos até 97

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Os investimentos das múltis, porém, não têm como característica a criação de empregos diretos, mas a busca de capacitação tecnológica. Essa é a opinião de empresários e economistas ouvidos pela Folha.
O economista Octavio de Barros, diretor-técnico da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), diz que o investimento direto per si não é mais garantia de aumento do nível de emprego.
Muitos deles, afirma o economista, são para a racionalização e redução dos custos de produção.
Um exemplo recente dessa tendência é a estratégia empresarial da subsidiária brasileira do grupo alemão Mercedes-Benz.
A empresa anunciou investimentos de US$ 450 milhões com a criação de 1,2 mil empregos na fabricação de uma carro médio no país. Em contrapartida, porém, ela vai deixar de fabricar carrocerias de ônibus, demitindo outros 1,2 mil empregados.
Além do projeto do carro médio, a Mercedes investirá USŸ 400 milhões, nos próximos cinco anos, nas fábricas de São Bernardo do Campo e Campinas em modernização de instalações, automação e melhoria da qualidade.
Para Barros, o que está por trás dessa nova realidade é a globalização da economia: a maior competição em mercados abertos está reduzindo as margens de lucro.
Werner Ross, presidente da Degussa e da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo, diz que a redução das margens não implica queda proporcional dos investimentos.
"Haverá investimentos, conforme prova a indústria automobilística, em ajustes estruturais para o aumento da competitividade", diz.
Prevendo que investimentos alemães no país, novos e de expansão, ficarão entre USŸ 1 bilhão e USŸ 1,2 bilhão, este ano, Ross afirma estar preocupado com a possibilidade de atraso nas reformas.
Salários maiores "A modernização obriga as indústrias desatualizadas a se reestruturarem ou fecharem, e isso tem um impacto social", diz Henrique de Campos Meirelles, presidente do Banco de Boston e da Câmara Americana de Comércio de São Paulo.
Para este ano, Meirelles prevê investimentos de USŸ 1,5 bilhão de empresas norte-americanas.
Serão menos empregos criados, mas melhor qualificados, acredita Carlos Geraldo Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Um exemplo, diz, está no setor de varejo, onde a entrada de redes multinacionais está obrigando a concorrência nacional a correr atrás da informatização de suas operações e da atualização da mão-de-obra.
Segundo Langoni, o investimento das múltis terá dois reflexos altamente positivos: 1) eleva o nível de exigência de qualificação profissional; e 2) eleva os salários reais médios da economia.
Os setores de varejo e de serviços, ao contrário da indústria, serão os grandes geradores de emprego na economia globalizada.
Segundo estudos da Rhodia do Brasil, empresa do grupo francês Rhône-Poulenc, para gerar um emprego direto a indústria química tem de investir US$ 100 mil e a de serviços US$ 40 mil.
A direção do Carrefour, grupo francês de supermercados, informa que a abertura de cada nova loja gera dois mil empregos na fase de construção, 600 na loja e 1,5 mil nos fornecedores e nas pequenas lojas, em média 25, na galeria comercial de cada supermercado.

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