São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 1996
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Idade e falta de carisma atrapalham Dole

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

No debate entre os aspirantes à candidatura do Partido Republicano à Presidência dos EUA na Geórgia, semana passada, uma jornalista perguntou: "Se eu fosse violentada por um criminoso odiento e engravidasse, os senhores impediriam que eu praticasse aborto?".
Bob Dole foi o primeiro a responder e disse: "Sim. Eu sou contra o aborto e tenho um longo histórico de votar sempre contra o aborto".
Todos os seus adversários, até o mais extremista, Pat Buchanan, começaram suas respostas com expressões de simpatia pela hipotética situação da entrevistadora.
Quando a palavra voltou a Dole, ele tentou consertar: "Eu achei que só tinha 10 segundos para responder, por isso fui tão rápido. Na verdade, eu defendo o aborto em casos de estupro, incesto e risco de vida para a mãe".
Este é Bob Dole em seus piores momentos como candidato: demonstrando falta de sensibilidade, indecisão, pouco tato.
Aos 72 anos, ele está prestes a obter o que tentou durante as últimas duas décadas: ser o candidato republicano à Presidência. Mas nada garante que ele passe disso.
Apesar da inegável habilidade como negociador e do excepcional desempenho como parlamentar em 35 anos de Washington, Dole ainda é visto com certa reserva pela maior parte da opinião pública.
Sua coragem pessoal é bastante admirada. As comemorações pelos 50 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1995, aumentaram muito a estima americanos por ele.
Mas as marcas dos ferimentos que ganhou no norte da Itália ainda estão em Dole, e não apenas no seu corpo. Embora ele agora consiga até falar sobre elas em público, a timidez, o ressentimento, a agressividade de seu comportamento continuam a despertar desconforto entre eleitores.
Dole melhorou muito depois que se casou com Elizabeth, em 75, após outro curto e malsucedido casamento. Uma das mulheres públicas mais brilhantes e admiradas do país, Elizabeth Dole é a presidente da Cruz Vermelha norte-americana. Ela foi secretária dos Transportes no governo Reagan e secretária do Trabalho no governo Bush.
Treze anos mais nova do que o marido, Elizabeth Dole é vista por muitos políticos profissionais como a mulher mais bem preparada para a Presidência.
Ela tem ajudado muito Dole a se soltar, falar mais sobre si mesmo, parecer mais humano nos discursos e entrevistas. Mas ele continua um orador medíocre, uma personalidade arredia.
Dole ainda enfrenta o espectro da idade. Se vencer em novembro, será a pessoa mais idosa eleita à Presidência dos EUA, aos 73 anos.
Alguns acham que isso é até um trunfo num país um pouco cansado do seu "quase-adolescente" atual presidente.
Outra vantagem é que numa população cada vez mais idosa, como a norte-americana, o eleitorado mais velho pesa, e -como as primárias deste ano demonstraram- ele vota maciçamente em Dole.
A revista "Time" fez em março de 1995 pesquisa de opinião pública em que 82% dos respondentes disseram achar que Dole não é velho demais para ser presidente.

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