São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 1996
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BRUXAS SOLTAS

Há alguns dias já estava claro o nervosismo dos mercados mundiais, em especial dos emergentes latino-americanos, com a aproximação dos juros americanos do limiar de 6,5%. Na última sexta-feira essa taxa bateu em inesperados 6,71%.
A Bolsa de Valores de Nova York despencou mais de 3%, e os títulos de dívida dos emergentes, como os do Brasil, perderam todo o ganho que acumularam nas últimas semanas.
Como se sabe, os rumos econômicos de países-chave na América Latina como México, Brasil e Argentina dependem das perspectivas de financiamento externo. Quando os juros sobem nas economias centrais, as perspectivas de financiamento na periferia tornam-se menos tranquilas. Mas não só na periferia. O efeito dominó atingiu na semana passada todos os mercados financeiros, interligados instantaneamente num mesmo circuito especulativo global.
No caso brasileiro, a deterioração no ambiente externo veio somar-se a dois dias de queda forte nas Bolsas de Valores e nos papéis externos motivados pela derrota dupla do governo no Congresso Nacional, na reforma da Previdência e na CPI do sistema financeiro. Alastrou-se rapidamente nos mercados mundiais a consciência de que o processo de reformas no Brasil será ainda mais demorado do que se previa até agora.
Para os bancos brasileiros, esse tumulto já teve implicações bem concretas. O custo de captar recursos no exterior elevou-se também, assim como a seletividade dos investidores ainda dispostos a eventualmente colocar seus recursos nesses bancos.
No Brasil, a turbulência diminui as chances de redução progressiva dos juros internos. Afinal, se a diferença entre juros internos e externos é um dos fatores que estimulam a vinda de capitais, a subida lá fora pode induzir as autoridades a, no mínimo, manter os juros onde estão.
Os custos do ajuste poderão ser maiores. As bruxas estão soltas.

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