São Paulo, segunda-feira, 11 de março de 1996
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Admitindo o erro

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Por ora, nada a ver com o Banco Central, seus técnicos e seu presidente -que estão na berlinda. O erro foi admitido publicamente. Mas, no caso deles, não é o erro que está criando e alimentando a crise mais grave do governo desde os tempos de Collor. É a incompetência ou a improbidade -e, em ambos os casos, somente a CPI poderá esclarecer a situação.
O erro admitido no título é meu mesmo, do cronista. Como os leitores já perceberam, os jornais de quando em quando fazem reformas gráficas que resultam em mudança de espaços, de tipologia, de paginação. Fui avisado a tempo e sabia que o tamanho da crônica seria alterado. Mesmo assim, semana passada digitei linhas a menos e fui solicitado pela redação para colocar a coluna dentro da nova medida.
Não tinha à mão o original que passara por fax pela manhã. Por telefone, ditei uma frase para ser intercalada num período em que o verbo estava no singular. Evidente que a frase ditada criou outro sujeito na oração, o que me obrigava a colocar o verbo no plural.
Fiquei tão exultante por ter corrigido (por telefone) o erro espacial que não percebi o erro gramatical (e grosseiro) que a emenda provocou. E foi com o erro idiota que a crônica saiu publicada. Eu próprio pedi que fosse feito um "erramos". Garantem que errar é humano. No meu caso, o erro só prejudicou a mim próprio. Os leitores, na infinita sabedoria e na finita paciência que os distingue, talvez desculpem o cronista.
Voltando ao Banco Central. Como no caso do piloto do avião que matou os Mamonas Assassinas, o erro na avaliação dos balanços do Nacional, humano ou não, é irreparável. Além do rombo provocado nas burras públicas (o nosso está lá, arrecadado entre outros pelo imposto sobre a renda), houve o rombo na credibilidade do governo que, tentando assegurar a credibilidade no sistema bancário, acabou comprometendo-a.
São muitos erros em cascata. E, pior do que o erro, a possibilidade de um crime que precisa ser apurado. Como dizia Collor, doendo a quem doer. No momento, doendo muito mais -e irreparavelmente- no bolso da gente.

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