São Paulo, terça-feira, 12 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O novo Econômico

CELSO PINTO

O Banco Econômico poderá reabrir suas portas no próximo dia 28 de março, se o Banco Central e o Excel assinarem o contrato de compra até o final desta semana, como ambos esperam.
As questões centrais estão resolvidas. Falta apenas fazer o ajuste final dos números, com base nos balancetes de janeiro e fevereiro -o que deverá estar pronto até amanhã.
Este ajuste final determinará o tamanho do empréstimo do BC ao Excel. Em princípio, ele deve ficar em torno de R$ 400 milhões.
O acordo acertará a vida do novo Econômico. Restará, contudo, muito a apurar na parte podre do Econômico que ficará com o BC.
Além das fraudes conhecidas, descobriu-se mais uma falcatrua, com um enorme poder de repercussão, especialmente depois do caso Nacional.
Entre os ativos do Econômico, existe um volume importante de repasses do BNDES que estão registrados no caixa de entrada, mas não têm tomadores no guichê de saída.
Repasses do BNDES são empréstimos destinados a empresas, que são apenas intermediados pelos bancos, em troca de uma comissão.
O grave, nesta história, é que o próprio BNDES tem controle sobre o tomador final e, normalmente, acompanha todo o processo.
Para ir ao ponto: parece muito, muito difícil, uma fraude deste tipo ter sido cometida sem a conivência de alguém no BNDES.
Se isto for correto, surge um novo e explosivo personagem na lista de desmandos cometidos pelo banco baiano.
O acerto final do Excel com o BC em torno do Econômico passou pelos pontos adiantados por esta coluna, no dia 27 de fevereiro.
Uma questão central era a qualidade dos ativos. O Excel deveria assumir um passivo de cerca de R$ 2,5 bilhões, mas só havia encontrado R$ 500 milhões em empréstimos de qualidade.
O ativo poderá ser engordado com outro R$ 1 bilhão sob a forma de depósitos compulsórios e títulos do governo que estavam na carteira do Econômico.
O BC já há algum tempo não tinha resistência em aceitar a liberação deste dinheiro.
O Econômico tem participações acionárias em empresas petroquímicas, que o BC não deverá abrir mão.
No entanto, outras participações acionárias, na Usiminas e na Coca-Cola do Nordeste, por exemplo, poderão compor o acerto final.
A diferença entre passivo e ativo que restar será coberta por um empréstimo do BC ao Excel.
Outro ponto antecipado: o passivo externo do Econômico soma US$ 900 milhões, sob a forma de depósitos no exterior, eurobônus, certificados de depósito e linhas comerciais.
Boa parte deste dinheiro deverá ser mantido no novo Econômico, mas o Excel queria -e deverá obter- a garantia de que, se precisar, poderá contar com uma linha de crédito do BC para cobrir retiradas.
Uma divergência conhecida era o pedido do Excel de uma linha especial de crédito do BC para cobrir eventuais perdas de recursos quando o Econômico for reaberto.
O BC insistia que não era preciso criar linhas novas. Bastaria a linha normal de redesconto de liquidez, se necessário com prazos maiores. Esta fórmula deverá prevalecer.
Outras questões discutidas longamente, como admitiram ambos os lados ao longo do processo, diziam respeito à definição sobre quem pagaria o que nas contas de certos custos operacionais do Econômico.
Sabe-se que a receita operacional do Econômico é três vezes menor do que sua despesa operacional.
Todas as questões centrais estão resolvidas. Faltam apenas os ajustes finos com alguns números. Tudo indica que a novela do Econômico será concluída ainda esta semana.
O capital do novo banco deverá ficar entre R$ 600 milhões e R$ 700 milhões, o que colocará o Excel no primeiro time da liga de bancos brasileiros.
No mercado internacional, o dono do Excel, Ezequiel Nasser, deu um passo importante ao abrir o Excel Bank nos Estados Unidos em 1º de fevereiro.
Trata-se de um banco americano: ele é controlado pelos mesmos acionistas do Excel brasileiro, mas não é uma subsidiária.
Pelo que se sabe, é a primeira vez, em 11 anos, que as autoridades americanas autorizam um latino-americano a abrir ou comprar um banco nos Estados Unidos.

Texto Anterior: 'Jornal não deve só denunciar'
Próximo Texto: FHC assina projetos antigos no Japão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.