São Paulo, terça-feira, 12 de março de 1996
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Disparos atingem gabinete de Cristovam

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O gabinete do governador do DF (Distrito Federal), Cristovam Buarque, foi alvo de um atentado às 4h15 de ontem.
Sete disparos, supostamente de uma pistola semi-automática 9 mm, foram feitos de um Fusca branco, na pista em frente ao Palácio do Buriti, sede do governo.
Cristovam Buarque relacionou o atentado a denúncias que fez recentemente sobre o narcotráfico em Brasília. "Tenho todas as razões para suspeitar do tráfico de drogas", disse. Buarque chamou de "cretinos" os traficantes.
Os disparos teriam sido feitos com o carro em movimento e os faróis apagados. Segundo um dos policiais de sentinela, Antonio Borges, o Fusca passou em frente ao palácio a cerca de 60 km/h.
Três dos sete tiros atingiram o gabinete do governador, no primeiro andar. Outros três foram disparados em direção à guarda -um deles passou perto do sentinela que estava em frente à portaria do palácio. O sétimo tiro atingiu a esquadria de metal da vidraça no térreo.
"Não acredito que esses cretinos, esse pessoal desse tipo, esses traficantes tenham coragem de fazer isso à luz do dia ou num lugar em que eu esteja." Para Buarque, o atentado busca intimidá-lo.
Denúncias
Interpelado judicialmente pelo PMDB, o governador acusou no dia 28, no STJ (Superior Tribunal de Justiça), assessores do deputado distrital Manoel Andrade (PMDB) de envolvimento com uma rede de tráfico de drogas no Gama, cidade-satélite de Brasília.
Cristovam relacionou o atentado ao narcotráfico por três razões: a denúncia no STJ (em que anexou depoimento que incriminaria o próprio deputado), a nomeação de um novo diretor da Polícia Civil do DF e o lançamento amanhã de programa de combate ao narcotráfico.
A Câmara Legislativa do Distrito Federal discute a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o envolvimento de parlamentares e autoridades com o narcotráfico.
No governo, acredita-se que o atentado partiu de um profissional. A pistola 9 mm só é usada oficialmente pelas Forças Armadas. O secretário de Segurança disse crer que os disparos foram feitos por "uma pessoa que tem habilidade, sabe atirar".
Os dois guardas que estavam na frente do Palácio do Buriti nem chegaram a reagir -estavam armadas com revólveres calibre 38.
Não havia um carro da segurança para perseguir o Fusca.
Sem pistas
A Polícia Civil iniciou uma investigação com poucas informações.
O fator que mais dificultará a investigação é a própria fragilidade da segurança do governador, que não sabe a placa e o número de ocupantes do carro.
A polícia tentará confirmar se o Fusca branco de onde partiram os tiros é o mesmo que levou duas vezes dois homens a um prédio da Asa Norte, onde o governador tem um apartamento.
Os dois homens teriam tentado entregar por intermédio do porteiro correspondências às filhas do governador -Júlia, 21, e Paula, 19.
O governador e a família moram na residência oficial, mas mantêm roupas e objetos no apartamento e o frequentam eventualmente.
O governador disse ter recebido pessoalmente ameaças, mas não as revelou. O chefe da Casa Militar, coronel Antonofre Andrade, disse que a segurança do governador e da família será reforçada.
Ele também afirmou que iria rever ainda ontem o esquema de proteção da sede do governo com mais homens, uso de metralhadora e a manutenção de um carro permanentemente de plantão no local.

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