São Paulo, terça-feira, 12 de março de 1996
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Álcool gera poluição como a gasolina

MÁRCIO DE MORAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O álcool combustível não é menos poluente do que a gasolina, como tem insistido o governo para justificar o relançamento do Proálcool com subsídios e incentivos oficiais -estimados pelo setor sucroalcooleiro em mais de R$ 4,5 bilhões.
Também a mistura de 22% de álcool na gasolina, usada no país por força de uma lei de fevereiro de 1991 (no auge da crise da Guerra do Golfo), não só torna os modernos motores a gasolina mais poluentes como aumenta o consumo de combustível em 18,13%.
Estas são, em resumo, as conclusões de testes de laboratório realizados pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) e pela Petrobrás, cujos relatórios foram obtidos pela Folha.
O documento registra que o consumo do motor a gasolina, quando utilizado apenas com este combustível, é de 14,72 km por litro. Com a mistura de 22% de álcool o consumo aumenta e o carro percorre apenas 12,46 km por litro.
Apenas a emissão de um dos poluentes -o monóxido de carbono- é ligeiramente menor nos carros a álcool -a diferença é de apenas 8,3%.
O estudo atribui a equiparação dos níveis de poluição nos dois motores à falta de investimentos em novas tecnologias a álcool. "A indústria automobilística não tem dado a mesma ênfase para aplicação de tecnologias mais sofisticadas como tem feito com as versões a gasolina", informa.
Para o físico Renato Linke e para o engenheiro Gabriel Branco, que assinam o relatório da Cetesb, "as versões produzidas atualmente não se caracterizam como a melhor tecnologia concebível".
Eles lembram que a maioria dos carros importados não está adaptada à mistura feita na gasolina brasileira, contribuindo ainda mais para a emissão de poluentes. Estes modelos estão preparados para utilizar gasolina pura.
O engenheiro Diocles Dalavia, da Refinaria Alberto Pasqualini (RS), informou que a Petrobrás procurou corrigir isso, propondo à indústria automobilística a mudança nos motores.
Os testes provaram, diz ele, que o carro à gasolina polui menos se os motores forem calibrados com "zero" de álcool, para posterior adição de 10% deste combustível.
"A partir desse índice de mistura, a adição de álcool na gasolina se transforma em prejuízo e maior poluição", acrescenta.

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