São Paulo, terça-feira, 12 de março de 1996
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Usinas exportam açúcar

MÁRCIO DE MORAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Enquanto negociam com o governo a retomada do Proálcool no país, os usineiros têm voltado suas atenções para negócios internacionais, mais lucrativos que a produção de álcool combustível.
Dados do Decex (Departamento de Comércio Exterior) do Banco do Brasil revelam que houve um crescimento de 62,27% nas exportações de açúcar cristal bruto e de 69,19% nas de açúcar refinado entre os anos de 1994 e 1995.
Já as importações de álcool desnaturado -que pode ser reprocessado para uso combustível- caíram 570% no mesmo período, diante de um crescimento de 69,16% no preço médio do mercado internacional.
Em 1994, o Decex registrou exportações de 2,11 milhões de toneladas de açúcar, enquanto que no ano seguinte foram exportadas 3,43 milhões de toneladas. No mesmo período, as importações de álcool desnaturado caíram sensivelmente, de 287,9 milhões de litros em 1994, para 42,9 milhões de litros em 1995.
Estratégia
O presidente da AIAA (Associação da Indústria do Açúcar e do Álcool), José Pilon, reconhece que essa estratégia foi adotada pelo setor para compensar os prejuízos com os preços defasados do álcool -calculados em mais de 40%, no mercado interno.
Além disso, segundo Pilon, o setor padece da falta de financiamento oficial para os estoques de álcool -uma obrigação do Estado definida em lei, mas que acaba sendo assumida pelos usineiros.
Os críticos do Proálcool garantem que os dados só comprovam a opção dos usineiros por negócios lucrativos -como a exportação de açúcar-, deixando em segundo plano a preocupação com a produção e o abastecimento de álcool combustível.
"Os usineiros não estão nem aí para o Proálcool", acusa o diretor da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás), José Conrado de Souza, que defende a reformulação do programa. Conrado não esconde sua insatisfação com o prejuízo de mais de R$ 1,3 bilhão anuais da Petrobrás com o álcool.
"Eles priorizam o lucro fácil com as exportações de açúcar sobre a produção de álcool, que tem um déficit crônico de 2 mil metros cúbicos por ano", fustigou Conrado.
Mesma origem
A Aepet lembra que o açúcar e o álcool têm a mesma origem -a cana-de-açúcar. "Ou você fabrica açúcar para exportar ou produz álcool para abastecer a frota de 4,5 milhões de veículos", acrescenta Conrado.
"A Petrobrás também teve lucros monumentais com as importações de metanol para uso em São Paulo, em substituição ao álcool", rebate Pilon. "E o que é pior: comprava o metanol com preço muito abaixo do do álcool, para revender aqui pelo preço da gasolina."
Esse lucro da Petrobrás só foi possível devido ao fato de o metanol ser destinado à mistura com o álcool hidratado, como forma de atenuar a poluição.

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