São Paulo, terça-feira, 12 de março de 1996
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MIOPIA PAROQUIAL

O corte de R$ 1,1 bilhão nas despesas de manutenção da máquina administrativa efetuado pelo relator-geral do Orçamento da União, deputado Iberê Ferreira (PFL-RN), para aumentar os recursos destinados às emendas de parlamentares não parece merecer acolhida.
Ninguém duvida de que muitas das obras e projetos propostos pelos congressistas são de fato importantes para as regiões em questão. É mais do que evidente que seria desejável consertar todas as pontes da Transamazônica, assim como é óbvio que seria ótimo irrigar todas as regiões áridas do país.
Existe, contudo, algo que se convencionou chamar "prioridade" (do latim "prior", "o que vem em primeiro lugar"). E aqui fica mais do que claro que essas obras não são, salvo raras exceções, prioritárias, sob a ótica do interesse geral da nação.
Não parece exagero afirmar que a estabilização da moeda é até aqui o principal trunfo do governo Fernando Henrique Cardoso. Com o fim do imposto inflacionário, as classes mais baixas conseguiram enfim uma melhor alimentação e até um certo poder de compra. É virtual consenso entre os economistas que o controle do déficit público é um dos pré-requisitos para a manutenção da inflação baixa. Ao tirar R$ 1,1 bilhão da rubrica de despesas de manutenção e desviá-lo para outros fins, o Congresso pode estar dando a sua contribuição para tornar ainda mais difícil o controle do déficit; afinal, algumas das despesas de manutenção não podem ser simplesmente cortadas sob o risco de colocar o governo numa intolerável paralisia. Acabarão sendo realizadas e poderão aumentar o déficit. É como a história do cobertor curto. Puxa para um lado, falta do outro.
A miopia de alguns congressistas não lhes permite ver o que é melhor para o país, e eles insistem em suas velhas práticas de sobrepor o interesse pessoal (votos) aos reais anseios do país (estabilidade).
Essa atitude demonstra, mais uma vez, que as reformas no campo político, embora paralisadas, são tão importantes quanto as econômicas.

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