São Paulo, terça-feira, 12 de março de 1996
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MAIS PREVENÇÃO

Infelizmente, ainda há quem considere que a eficiência das ações policiais pode ser avaliada pela quantidade de baixas que elas produzem. Para estes, policiar é vitimar. Por isso, se opõem ao programa de afastamento de policiais envolvidos em ocorrências com morte, implantado pela PM a partir de setembro de 95.
Desde então, registrou-se uma queda de 35% no número de civis mortos em confronto com a Rota, em comparação com os números do 1º semestre de 95. Para os detratores do programa, os policiais estariam se omitindo em suas ações, para evitar confrontos e não terem de se submeter ao programa (quando então perderiam a chance de complementar seus ganhos mensais por meio dos serviços fora do horário de trabalho).
Para a corporação, ao contrário, a queda do número de mortes deve ser creditada, dentre outros fatores, ao sucesso do programa, durante o qual o policial ocupa-se com serviços administrativos e recebe acompanhamento psicológico.
Parece evidente que os transtornos vividos consciente ou inconscientemente pelo policial, em ações marcadas pela violência, geram um estresse que, cedo ou tarde, repercutirá em sua capacidade de discernimento nos momentos em que é chamado a atuar. Assim, seu afastamento pode ser considerado correto.
Mas não se pode ignorar, na tarefa de aprimoramento da atuação policial, a necessidade de uma pronunciada mudança na política geral da polícia, passando a dar à função preventiva uma importância maior que à função meramente repressiva. Vistoriar com mais frequência o porte de arma, por exemplo, ou flagrar cidadãos alcoolizados certamente poderia evitar muitos problemas.
Inaceitável porém é continuar acreditando, contra todas as evidências, que o morticínio é prova de que a tarefa policial foi bem cumprida.

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