São Paulo, quarta-feira, 13 de março de 1996
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Secretários criticam acordo

Estatal pode barrar projeto do gasoduto

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O megaprojeto do gasoduto ligando a Bolívia ao Brasil poderá se inviabilizar caso a Petrobrás insista com exigências fora do acordo previsto inicialmente entre os Estados que receberão o gás boliviano.
A ameaça foi feita ontem em São Paulo por secretários de cinco dos sete Estados que receberiam esse gás a partir de 1998. Com cerca de 3.500 quilômetros, o gasoduto custará R$ 1,8 bilhão.
"Com as condições que estão sendo impostas, nós não vamos comprar o gás boliviano", disse David Zylberstajn, secretário de Energia de São Paulo. Protocolo de ação conjunta foi assinado por ele e os outros quatro secretários.
Também assinaram o protocolo secretários do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Só São Paulo representaria 50% do consumo de 16 milhões de metros cúbicos diários do gás boliviano.
Em escala menor, Rio e Minas também seriam atendidos pelo gasoduto. A Folha fez reportagem em fevereiro passado adiantando muitos desses problemas. Já há alternativas para a substituição do gás boliviano. Uma delas é a importação de gás natural da Rússia. Segundo Zilberstajn, o gás chegaria ao Brasil em estado liquefeito, por via marítima.
O gás russo tem várias vantagens sobre o boliviano. Uma delas é o preço mais barato. Enquanto o gás da Bolívia vai ser entregue às distribuidoras por até R$ 2,90 o milhão de BTU (26,8 metros cúbicos), o russo chega por R$ 2,10. O gás nacional custa R$ 2,38.
Outra alternativa seria o gás do norte da Argentina. Neste caso, o gás entraria pelo Rio Grande do Sul. Até São Paulo, seriam 1.400 quilômetros de gasoduto -menos da metade da opção boliviana.
"O Brasil não pode ficar refém de um único fornecedor externo. Com Argentina e Bolívia, poderíamos formar um anel de gás", diz o secretário gaúcho Assis de Souza.
Para os secretários, as exigências da Petrobrás inviabilizam o gás boliviano. Há exigências desde sobrepreço sobre as tarifas do gás até garantias de que o investimento no gasoduto seja rateado também pelas distribuidoras estatais.
Outra exigência é a de que os Estados paguem 90% sobre o gás distribuído caso não haja consumo total das cotas de cada um deles.

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