São Paulo, quarta-feira, 13 de março de 1996
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"O Céu Sobre Lisboa" repassa as fórmulas cansadas de Wenders

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Wim Wenders trabalha com idéias fixas. A procura infinita de uma identidade impossível, o desencontro, a solidão, o silêncio e a incomunicabilidade entre os homens são obsessões presentes em "Alice nas Cidades" (1973), estão magistralmente tratadas em "No Decorrer do Tempo" (1976) e encontram uma espécie de síntese em "Paris, Texas" (1984).
"O Céu Sobre Lisboa" (1994), que sai agora em vídeo, retoma essa face perene da obra do cineasta, mas põe mais uma vez a nu o cansaço das suas fórmulas.
Desde que resolveu povoar seus filmes com criaturas aladas e alegorias de gosto duvidoso, Wenders parece ter se tornado óbvio demais. É como se toda sua pretensão metafísica se resolvesse de repente numa espécie de tolice subgermanófila.
Neste filme, um técnico de som, Philip Winter (Rudiger Vogler), viaja a Lisboa para acudir um amigo diretor que enfrenta problemas numa filmagem. Ambos se desencontram e Philip passa a recolher ruídos pela cidade para o filme do amigo.
Desencontros, ruídos, reflexões sobre o cinema, paixões frustradas -a fórmula é sempre a mesma. Só que Wenders tornou-se ele próprio uma vítima da sua obsessão. Está perdido, vacila, não acha saída.
A crise do cineasta faz lembrar uma das tiradas de gênio de Guimarães Rosa. Perguntado sobre o segredo de seu "Grande Sertão", disse que se tratava de "pura metafísica com um pouco de capim por cima". Wenders anda esquecido do "capim". E sem ele, suas incursões matafísicas tornaram-se simplesmente enfadonhas.
FERNANDO BARROS E SILVA

Vídeo: O Céu Sobre Lisboa
Direção: Wim Wenders
Elenco: Rudiger Volger, Teresa Salgueiro
Distribuição: Top Tape (tel. 011/826-3066)

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