São Paulo, quarta-feira, 13 de março de 1996
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MATURIDADE SINDICAL

A disposição do presidente da Confederação dos Metalúrgicos da CUT, Heiguiberto Guiba Navarro, de discutir a flexibilização dos termos de contratação mostra que alguns tabus começam a cair por terra e que as lideranças sindicais do país estão evoluindo ao perceber a questão trabalhista mais como uma parceria do que como puro confronto.
Ainda que a CUT, como o governo, tenha rejeitado a redução da contribuição à Previdência e o não-pagamento do FGTS, existe uma larga gama de termos que poderão ser objeto de contratos coletivos de trabalho, livremente negociados entre as partes, de acordo com as características de cada setor e as demandas dos trabalhadores de cada sindicato.
De fato, no setor metalúrgico já estão em vigor alguns acordos que ultrapassam o rígido arcabouço da CLT. Em novembro último, a Ford e a Scania acertaram com o sindicato (filiado à CUT) a flexibilização da jornada, que, na primeira, poderá variar de 38 a 44 horas semanais e, na segunda empresa, de 32 a 44 horas. A jornada média foi reduzida, respectivamente, para 42 e para 40 horas semanais. Os trabalhadores não tiveram seus rendimentos reduzidos, mas aceitaram que os salários subissem menos do que a inflação.
Em São Paulo, a iniciativa da Fiesp e da Força Sindical esbarrou na legislação. Ainda assim, teve o mérito de projetar a discussão. O país só terá a ganhar se de fato a CUT escapar da intransigência e aceitar discutir temas que, afinal, são de interesse dos próprios trabalhadores.
Mesmo na questão da contribuição à Previdência, se o objetivo for efetivamente estimular as contratações, é preciso estudar e propor formas de custeio alternativas à cobrança sobre a folha de pagamentos.
De modo geral, a postura negociadora de importantes lideranças sindicais do país, ainda que incipiente, é sinal de maturidade. Traz consigo a esperança de que a sociedade brasileira esteja mais arejada e, pouco a pouco, modernize-se.

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