São Paulo, quinta-feira, 14 de março de 1996
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Médico e escola médica

ELEUSES VIEIRA DE PAIVA

A qualidade do ensino superior é questionada em todo país. A questão tem merecido a preocupação de diversos setores ligados ao corpo discente, docente e entidades de profissionais que vêm buscando propostas de reformulação.
O governo apresentou recentemente a proposta de exame de final de curso. Questão polêmica que tem recebido críticas no sentido da insuficiência do instrumento no processo de avaliação.
Nas escolas médicas a situação é dramática, pois o exame não conseguirá avaliar questões fundamentais que hoje permeiam as discussões nas faculdades, ou seja, o conjunto de técnicas e a formação da relação médico-paciente.
A abertura de novas escolas de medicina, por outro lado, tem sido uma constante, fazendo-se necessárias algumas reflexões.
O Brasil possui 81 escolas, sendo 19 no Estado de São Paulo. Formam-se anualmente cerca de 2.000 alunos no Estado e 8.000 no país.
Lembramos que atualmente os médicos perfazem um total de 220 mil na Federação, sendo que mais de 60% estão concentrados no Sudeste. Esses Estados apresentam uma proporção médico/habitante acima do preconizado pela Organização Mundial de Saúde.
Mas os números acima estão longe de refletir um melhor atendimento à população. Ao contrário, o grande número de médicos só tem favorecido a proliferação de planos de saúde, que fazem da baixa qualidade dos serviços prestados e do aviltamento dos honorários seu filão do lucro fácil.
Ressaltamos a importância de uma maior participação da sociedade no processo de discussão da formação dos profissionais de nível superior. Não basta cobrar um melhor desempenho do profissional; é preciso exigir dos níveis decisórios maior compromisso nas questões relativas à formação.
Estranhamos, portanto, que ainda se permita a abertura de novos cursos. Lamentamos as iniciativas que estão ocorrendo no Rio Grande do Sul e em Marília (SP). Entendemos que o momento é de reavaliação e reestruturação das escolas, para que possamos formar profissionais adequados às necessidades da população.

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