São Paulo, sábado, 16 de março de 1996 |
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Ato de sem-terra vira duelo de petistas
GEORGE ALONSO
O início do cadastramento de desempregados pelo MST em favelas paulistanas, em busca de novos sem-terra, acabou virando um irônico duelo entre petistas. Em vez de terra, o que mais se falou ali foi da disputa de votos na prévia que, no próximo dia 24, define o candidato petista a prefeito. A ex-prefeita paulistana Erundina (1989-92) chegou à maior favela da cidade (65 mil moradores) às 16h40, falando que estava "em campanha". Corrigiu rapidamente: "Dentro do partido". Dez minutos depois, avisado por assessores, Mercadante chegou, risonho, dizendo: "É corpo-a-corpo direto, isso aqui é marcação metro a metro. Aqui é meu reduto, vocês vão ver quando abrirem as urnas. Tenho apoio da União das Associações dos Moradores da Heliópolis". A entidade reúne dez associações de moradores da favela. Ambos não se acanharam em cometer atos demagógicos e preencheram juntos, em gesto simbólico, fichas de cadastramento do MST. Discursaram e atacaram o prefeito Paulo Maluf (PPB). Erundina aproveitou a oportunidade para repetir sua velha máxima: "Está bem configurado. Existe uma candidata das bases do partido e um candidato das direções". Ela aproveitou para refutar a tese de que Mercadante deveria ser o candidato, por uma dívida política. "Se ele abdicou de candidatura ganha a deputado federal para ser vice na chapa de Lula em 94, me candidatei ao Senado a pedido do partido. Venceria como deputada." A ex-prefeita afirmou que não se preocupa com o "arrastão" nas casas dos filiados que o grupo de Mercadante prepara. "O meu arrastão é mais antigo", disse ela. Mas, na verdade, ela busca mobilizar suas bases nos bairros, porque a ala que a apóia acredita que quanto maior for o colégio eleitoral, maior a sua chance de vitória. Mercadante não perdeu a chance de retrucar: "O arrastão dela é antigo, só que ela ficou nos últimos anos sem visitar as bases e agora tem de correr contra o tempo". Antes de deixar a favela, os dois petistas procuraram evitar que essa rivalidade acabe com a unidade do partido na eleição para valer, a de 3 de outubro. "Quem apostar no racha, vai quebrar a cara", disse Mercadante. Erundina mandou recado semelhante: "O PT é o único partido que tem coragem de assumir disputa para fazer uma escolha". As farpas jogadas na favela Heliópolis eram o aquecimento do debate que fariam na Vila Prudente ontem à noite. O último duelo será na próxima quinta-feira. Texto Anterior: Paes tem estratégia para derrotar emenda Próximo Texto: Favelados preferem Cingapura Índice |
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