São Paulo, sábado, 16 de março de 1996
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Créditos fictícios somam 37,7% da fraude

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os 652 empréstimos fictícios do Banco Nacional maquiaram o balanço da instituição em R$ 2 bilhões, no ano passado.
A informação consta de notícia-crime encaminhada no dia 12 pelo Banco Central ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro.
A comunicação do BC, obtida pela Folha, indica que esse tipo de operação corresponde a 37,7% no valor total da fraude do Nacional, estimada em R$ 5,3 bilhões.
Segundo o BC, a fraude consistia na alteração eletrônica das datas de vencimento dos empréstimos, realizados em 1987 -com vencimento no mesmo ano- e cujos devedores já tinham sido cobrados judicialmente por atraso.
"As 652 contas de empréstimos eram mantidas como contas normais através de artifício de alteração eletrônica de seus vencimentos", diz a comunicação do BC.
O relatório, assinado pelo diretor de Normas e Fiscalização do BC, Cláudio Mauch, aponta que a alteração pode ter sido feita pelo ex-contador do Nacional, Clarimundo Sant'anna.
Segundo o relatório, ele era responsável pelo balanço da instituição e tinha acesso exclusivo às contas fictícias.
Saldo padrão
Na prática, em vez de colocar esses empréstimos de difícil recuperação como prejuízo, o Nacional mantinha as operações como normais e contabilizava lucro.
Dividendos
Juntamente com os comunicações eletrônicas sobre a alteração dos vencimemtos, o BC encaminhou à Procuradoria a relação dos administradores do Nacional no período da fraude. Eles são passíveis de sofrer ação penal.
A Folha apurou que os empréstimos fictícios permitiram a maquiagem dos balanços para a distribuição de dividendos aos acionistas do banco.
Em agosto de 95, no último balancete publicado, o Nacional apresentou um lucro de R$ 1 bilhão. Assinam esse balancete 15 diretores do banco. Entre eles, os irmãos Marcos, Eduardo, Fernando e Ana Lúcia Magalhães Pinto, esta última nora do presidente Fernando Henrique Cardoso.
O advogado do Nacional, Sérgio Bermudes, disse que não vai falar sobre as irregularidades levantadas pelo BC enquanto não for comunicado oficialmente.
O relatório do BC foi encaminhado para a Procuradoria da República no Rio de Janeiro.

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