São Paulo, sábado, 16 de março de 1996
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SUPER-MENEM

Os mais recentes acontecimentos na Argentina mostram um extraordinário vigor político do presidente Carlos Saúl Menem. As dificuldades econômicas são lá evidentes e, de certa forma, crescentes. São até mesmo educativas para países ainda iniciantes no esforço de estabilização, como afinal ainda é o caso do Brasil.
Economicamente, o grande drama argentino é ter alcançado a inflação zero à custa de um desemprego brutal, de uma dependência financeira externa muitas vezes angustiante e de um processo recessivo que fragiliza tanto as empresas quanto a saúde das contas públicas.
Mas, diante dessas dificuldades, o presidente Menem resolveu lançar-se a uma ofensiva econômica e política notável. Está pressionando o ministro da Economia, Domingo Cavallo, a conseguir junto aos bancos uma redução dos juros que alivie a situação das empresas e dos consumidores.
Apostou ainda numa ofensiva parlamentar em busca do que acabou ficando conhecido como "superpoderes fiscais", cujo desfecho na semana passada foi positivo. Conseguiu maior liberdade para racionalizar a máquina administrativa pública e prorrogou legislação provisória que permitirá arrecadar mais impostos.
O presidente assumiu também nos últimos dias uma postura sem precedentes de maior distanciamento frente ao ministro Cavallo. Desde o ano passado especula-se com a queda do ministro e nos últimos dias ele perdeu alguns de seus mais importantes auxiliares. Suspeitos num caso de corrupção, um foi demitido por Menem, outro pelo próprio Cavallo, que entendeu bem o recado.
O mais importante nesse episódio é que uma saída de Cavallo talvez já não preocupe tanto os mercados financeiros. Afinal, o próprio presidente Menem faz o que a comunidade de credores da Argentina espera (o esforço fiscal) e o câmbio fixo está garantido por lei. Cavallo tornou-se dispensável, especialmente porque Menem tem planos sucessórios que não passam pelo ministro.
Já há quem especule com um terceiro mandato para o Super-Menem.

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