São Paulo, sábado, 16 de março de 1996
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98, o ano que já começou

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Vamos dar de barato que haja, no mundo político, um punhado de pessoas de fato preocupadas com a saúde do sistema financeiro e, em especial, com a dos correntistas. Mas, para a maioria, a batalha em torno da CPI dos bancos diz muito mais respeito à sucessão presidencial de 1998.
Começa pelo próprio governo. Todo o discurso oficial vai no sentido de insinuar que a CPI seria a ante-sala da tal crise sistêmica, que poderia derrubar todos os bancos de uma tacada só, com custos, inclusive sociais, incalculáveis.
Não é bem assim, a julgar pelo que diz o próprio líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP): "Não há, de nossa parte, uma resistência atávica à CPI. Mas também não queremos passar recibo de trouxas e ficar à mercê de um jogo cujo objetivo não é uma fiscalização séria" (do setor financeiro).
Passemos a José Sarney, o presidente do Senado. Candidatíssimo à presidência em 1998, suas chances dependem, no entanto, de que o atual governo nem tenha êxito completo (o que fortaleceria a tese da reeleição e, por extensão, a candidatura FHC) nem fracasse redondamente (o que ajudaria mais o PT do que Sarney).
Continuemos com Paulo Maluf, o prefeito paulistano. Trata-se de um personagem de alma conservadora, o que o levaria a distanciar-se de qualquer agitação que pudesse ocorrer no sistema financeiro. E uma CPI sempre agita, no bom ou no mau sentido.
No entanto, Maluf sai por aí dizendo-se favorável à CPI, sem no entanto forçar o seu partido a indicar o representante a que tem direito, o que completaria as indicações da maioria absoluta dos integrantes da CPI e, em tese, autorizaria o seu funcionamento.
Move-se com cautela suficiente para, talvez, credenciar-se a um ministério, o que lhe daria o guarda-chuva ideal para atravessar o período em que fica sem cargo público, entre janeiro de 97 e a eleição de 98.
Para qualquer lado que se olhe, 98 está sempre presente, muito mais cedo do que seria lógico esperar-se.

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