São Paulo, sábado, 16 de março de 1996
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Japão e CPI

FERNANDO RODRIGUES

Tóquio - Há duas análises da viagem de Fernando Henrique Cardoso ao Japão. Uma de repercussão interna e outra externa. Para o público externo, FHC foi um sucesso quase total.
Um dos erros brasileiros foi não apresentar projetos de cooperação agrícola com o Japão. Os japoneses importam mais de 60% dos produtos alimentícios que consomem.
Mas o governo japonês adorou FHC. A ponto de o primeiro-ministro, Ryutaro Hashimoto, interromper a leitura de seu discurso no jantar de quinta para fazer um elogio que certamente causará inveja no presidente argentino, Carlos Menem.
Hashimoto disse que, nesta semana, um representante japonês encontrou-se com o presidente dos EUA, Bill Clinton. Ao saber que FHC estava no Japão, o norte-americano teria se referido ao brasileiro como um "homem muito confiável" e "o grande líder da América Latina".
É correto dizer que FHC sai do Japão deixando uma impressão favorável do país junto à burocracia do país.
O presidente deixa o Japão depois de assinar contratos oficiais equivalentes a US$ 3,7 bilhões em financiamentos para projetos oficiais do Brasil. É muito dinheiro.
Para o público interno, entretanto, FHC deixa um saldo negativo sobre como tratou um tema nacional durante a semana que termina hoje.
FHC recusou-se sistematicamente a comentar a CPI dos bancos enquanto esteve no Japão. Não queria falar de questões internas durante uma viagem internacional.
É louvável que o presidente evite temas paroquiais ao representar o país no exterior. Mas essa estratégia só é obedecida quando interessa a FHC.
O presidente ainda não tem nas mãos o controle total da situação. Por isso, prefere não falar. Pior do que isso, sonega informações. Colocou em curso uma estratégia para sepultar a CPI. E não dá declarações.
É a marca de FHC. Bom na política externa e trôpego na interna. Nos EUA, o último com um perfil semelhante, George Bush, foi enterrado eleitoralmente na tentativa de reeleição.

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