São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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Bancos perdem com inflação baixa

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos instalados no Brasil tiveram no ano passado perda de receita inflacionária na proporção de cem para quatro. Essa é causa original da instabilidade do sistema.
Uma amostra de 28 bancos, de diversos tamanhos, mostra que a receita inflacionária no ano passado, de US$ 455 milhões, foi equivalente a 4% do ganho obtido em 1994, superior a US$ 10 bilhões.
A amostra foi preparada para a Folha por Carlos Coradi, da EFC - Engenheiros Financeiros e Consultores, com base nos balanços.
Deve-se notar que 1994 teve inflação elevada, acima de 40% ao mês, apenas no primeiro semestre. Em julho, o real entrou em circulação e a inflação caiu rapidamente, terminando o ano pouco acima de 1% ao mês, na média.
Mesmo assim, o ganho inflacionário naquele ano foi superior à receita com operações de crédito, que constituem, afinal, a função básica de um banco (captar dinheiro de uns e emprestar para outros).
Em 1994, aqueles 28 bancos fizeram US$ 6,3 bilhões em operações de crédito, cerca de 60% do que ganharam com a inflação.
O ganho inflacionário é aquele que o banco tem aplicando diariamente o dinheiro que, por qualquer motivo, fica parado nas contas dos clientes. Ou seja, o banco obtém um rendimento sobre o dinheiro que não remunera.
A 1,5% ao dia, nos "bons tempos", o ganho era extraordinário. Sem inflação, os bancos precisaram substituir essa perda com redução de despesas e aumento de outras receitas.
Todos aumentaram a cobrança por serviços. Em 1994, os 28 bancos tiveram US$ 2,8 bilhões cobrando por talões de cheques, cartões, uso de terminais etc.
No ano passado, essa receita já subiu para US$ 4 bilhões.
Mas a maior alta foi nas receitas com operações de crédito. Chegaram a US$ 20,6 bilhões em 1995, três vezes mais do que em 94.
Mas há dúvidas quanto a este resultado. Os bancos quebrados apresentaram todos a seguinte característica: registravam como operações lucrativas certos empréstimos de remoto recebimento.
Sem contar o caso extremo do Nacional, que fraudava as operações, e vinha quebrado desde o Plano Cruzado, de 1986.
Muitos bancos se ajustaram à vida sem inflação, mas todos no mercado sabem que, além dos bancos estaduais, muitos privados estão atrasados nesse ajuste.
Essa percepção e a fiscalização falha do BC formam a causa de uma persistente instabilidade no sistema.
(CAS)

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