São Paulo, terça-feira, 19 de março de 1996
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Bancos mais frágeis

CELSO PINTO

Quem acha que há um exagero quando se diz que o sistema financeiro está frágil deveria dar uma olhada mais atenta nos balanços já publicados.
Os dados consolidados de 56 entre os maiores bancos comerciais e múltiplos do país, reunidos pela consultora Austin Asis, mostram que o valor dos créditos duvidosos mais do que dobrou: saltou de 7,6% do patrimônio líquido, em 1994, para 18,1% no ano passado (isso sem incluir o Banco do Brasil).
Para se ter uma comparação, em 1991, em plena ressaca da recessão do Plano Collor, o comprometimento do patrimônio com créditos duvidosos havia chegado a 6,8%. Em 1993, ano sem crise, o comprometimento era de 3,8%.
Os 18,1% de comprometimento no ano passado significam que, grosso modo, um em cada cinco reais que esses bancos tinham de capital no ano passado estava comprometido com operações de liquidação duvidosa. É uma proporção alta e preocupante.
Esse indicador, em si, mesmo sem considerar as quebras de bancos, já seria o bastante para levar bancos em melhor situação de liquidez a serem muito mais seletivos na concessão de empréstimos interbancários a outros bancos.
De fato, o total desses empréstimos caiu de US$ 10,3 bilhões em 94 para US$ 7,4 bilhões no ano passado e, pelo que se sabe, continuou a cair neste ano.
As provisões para créditos de liquidação duvidosa multiplicaram-se por quatro no ano passado. Medidas em dólares constantes do final de 1995, essas provisões subiram de US$ 1,1 bilhão para US$ 4,4 bilhões entre 94 e 95.
Em 91, as provisões desse grupo de bancos somavam só US$ 37 milhões. Em 93, antes do Real, eram de US$ 438 milhões.
A rentabilidade média desses 56 bancos analisados não foi ruim. Ela caiu de 14,6% do patrimônio líquido, em 94, para 13,6% no ano passado, mas esse ainda é um nível mais do que satisfatório em termos internacionais. Os bancos continuaram ganhando dinheiro, mas a qualidade de seu negócio sofreu uma clara deterioração.
Os ativos consolidados cresceram 17%, para US$ 109 bilhões, mas mudaram de direção. Pela primeira vez em muitos anos, as operações de crédito de curto prazo com o setor privado caíram em relação ao ano anterior, de US$ 34,9 bilhões para US$ 32,5 bilhões (embora as operações de longo prazo tenham crescido de US$ 11,9 bilhões para US$ 16,4 bilhões).
O que cresceu de fato foram as aplicações no mercado aberto: de US$ 5,6 bilhões para US$ 21,9 bilhões. O valor voltou a se parecer às aplicações que os bancos tinham no open market antes do Real: US$ 22,2 bilhões no final de 93. Ou seja, a migração maciça do open para operações de crédito durou pouco.
Esse quadro indica claramente os limites do governo em continuar apoiando sua política econômica em juros muito altos. Explica, também, o porquê do nervosismo dos bancos com o tiroteio sobre o BC.
Cautela com o Excel
Como argumenta um ex-diretor do BC, o chefe do Departamento Bancário e o diretor de Política Monetária do BC, além de seu presidente, são os mais diretamente vulneráveis a sofrer ações de responsabilização penal como pessoas físicas.
Portanto, quanto mais pressões sobre o BC, mais conservadores eles tendem a ser na concessão de empréstimos de liquidez ao sistema bancário.
A cautela do BC já redobrou. A compra do Econômico pelo Excel, que já tinha tido um sinal verde político do mais alto nível, empacou por essa razão.
O BC não aceita assumir sozinho a responsabilidade pela concessão de empréstimos do Proer para o Excel comprar o Econômico. Quer, no mínimo, a assinatura do ministro da Fazenda. Se há interesse político no negócio, sustenta o BC, que ele se manifeste na co-responsabilidade formal.

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