São Paulo, terça-feira, 19 de março de 1996
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Maluf insiste em defender apuração

PPB aceita discutir 'inconstitucionalidade'

DA REPORTAGEM LOCAL; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com um discurso de líder de oposição, o prefeito Paulo Maluf (PPB), de São Paulo, voltou a defender ontem a instalação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do sistema financeiro.
"Não vejo porque a população não saiba por inteiro o que aconteceu com seu dinheiro, com R$ 7 bilhões", afirmou. Pediu a demissão do presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, por administrar o BC de "maneira duvidosa".
Maluf informou que o PPB vai indicar seu representante para a CPI. "A gente não vai esconder 7 bilhões dados para um banco, que foi considerado uma fraude", afirmou Maluf, com ar de indignação.
O prefeito comparou, por exemplo, o socorro financeiro de USŸ 10 bilhões que países desenvolvidos deram à Rússia, com o aval do Fundo Monetário Internacional.
Lembrou ainda que, na recente visita do presidente Fernando Henrique Cardoso ao Japão, o Brasil recebeu USŸ 3,5 bilhões.
"O Japão, que é a segunda potência do mundo, deu ao Brasil USŸ 3,5 bilhões a longo prazo. Está todo mundo feliz. Como entra USŸ 3,5 bilhões e soltam USŸ 7 bilhões para um banco que fraudou?"
Maluf também se referiu à tentativa do ministro da Saúde, Adib Jatene, para obter R$ 5 bilhões para o setor que administra.
"E Jatene é torturado em uma via-sacra infindável, se humilhando de gabinete em gabinete de deputado", disse. "Isso é o Brasil real. O Brasil imperial é aquele que pertence ao presidente do BC."
Para o prefeito, Gustavo Loyola tem de ser punido por sua ação no episódio do Nacional. "Ele dá 5 bilhões, 10 bilhões, 50 bilhões. Quebra o país com a caneta dele. Essa independência ele não pode ter."
Maluf negou que depois pretenda negociar com o governo alguma saída para a CPI. "Essa é uma proposta 7 mil vezes indecente. Porque é 7 mil vezes USŸ 1 milhão. Não temos compromisso com governo nenhum. Não temos ministro no governo. Nós temos o rabo preso é com o povo do Brasil."
"Se na minha administração tivesse (fraude) com USŸ 7 mil, eu demitia o administrador regional." "Não vou defender ninguém pelos USŸ 7 bilhões que foram tirados da saúde, da educação, do leite em pó, para pessoas que fraudaram os balanços de seus bancos."
A defesa veemente feita por Maluf para instalar a CPI parece não encontrar eco em seus partidários no Congresso.
Ontem, mesmo insistindo em indicar um representante para a CPI, o PPB aceitou discutir a "inconstitucionalidade" da investigação, segundo o presidente da legenda, o senador Esperidião Amim (SC).
Segundo Amim, "parece que há fundamento" na tese defendida pelas lideranças governistas de que a comissão não pode ser instalada porque não há "um fato determinado" a investigar.
A Folha apurou junto aos assessores de Maluf, que ao bater duro no governo FHC ele procura:
1) Evitar o ônus pela não apuração de supostas fraudes na operação para salvar o Banco Nacional. O prefeito teme desgaste eleitoral caso se alinhe com o governo;
2) Pretende delimitar seu espaço político com vistas a futuras disputas eleitorais. O alvo é 1998. Candidato à Presidência ou ao governo de São Paulo, Maluf quer delinear desde já suas diferenças com Fernando Henrique. O prefeito vai fazer tudo para dificultar o projeto de reeleição do atual presidente.

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