São Paulo, terça-feira, 19 de março de 1996
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Sobre os oito do Palmeiras, Mike Tyson e a Indy

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, a grande vitória que o Palmeiras, o nosso Ajax verde, obteve lá na Califórnia brasileira, rivalizou com a vitória de Tyson e o excelente desempenho dos meninos brasileiros na Indy, em um fim-de-semana pleno de emoções esportivas.
O placar, obtido em verso de oito sílabas, recolocou o Palmeiras no seu devido posto: não meramente um primeiro lugar na tabela, mas um time para, como se diz por aí, marcar uma época.
Um time completo: correto no posicionamento, excelente conjunto, velocidade, habilidade, apetite para o gol.
Mas um time que cresce mais ainda quando um certo Cafu, rejuvenescido, está em campo.
*
Como Hemingway, gosto de tourada (aliás, alguns surrealistas também adoravam a tauromaquia) e de luta de boxe (aliás, uma mulher americana, escritora, Joyce Carol Oates -além de Norman Mailer- também adora).
Jean Cocteau era outro que adorava o boxe. Conseguiu que a sua amiga Coco Chanel patrocinasse uma luta do bailarino Panamá O. Brown.
Não seria, por exemplo, de todo mal, lembrar que, o boxe foi um das primeiras oportunidades para que os negros pudessem ter visibilidade na vida americana, chegando mesmo a criar a necessidade paranóica da "grande esperança branca" para derrotá-los.
Poderíamos ficar anos discutindo se boxe e tourada são rituais que o mundo deveria preservar. Penso que sim.
A galera politicamente (ou ecologicamente) correta acha que não. Haverá, nas minhas razões, muito de irracional, muito do elemento mitológico e da dimensão mágica.
Pode ser tudo isso. Um dia, terei tempo para descrever, tim-tim por tim-tim, porque penso que o mundo contemporâneo não precisa acabar com essas modalidades de eventos. (Isso também não significa que defendo qualquer modalidade de luta ou de disputa com animais. Abomino a farra do boi, como abomino a briga de galos -ou, pior ainda, de passarinhos. Também acho desprezíveis essas lutas vale tudo, que fazem sensação nos canais das TVs pagas).
Não me julgo menos humanista ou mais violento do que ninguém ao defender a presença desses ritos antigos na nossa sociedade moderninha.
Também não são essas atividades as responsáveis pelos males do mundo. Há nelas uma provação, uma forma de sacrifício, que, em última instância, é um acerto de contas do homem com ele mesmo.
Defender a tourada ou o boxe é uma posição intelectualmente difícil nos dias de hoje.
Não vejo necessidade, por exemplo, de se trazer as touradas para o Brasil. Não temos tradição nesta arena -um dos únicos argumentos sustentáveis. Além disso, com certeza, a proibição do boxe e das touradas -nos países em que é praticada- só vai levá-los para a clandestinidade.
Voltaremos ao assunto.
*
Em um fim-de-semana de muito calor esportivo, também foi emoção fortíssima rever o programa com Cascatinha e Inhana, na TV Cultura.
Feito em 1973, ele é mais um golaço histórico do santista Fernando "Baixinho" Faro.

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