São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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Sarney derrota governistas e instala CPI

LUCAS FIGUEIREDO
MARTA SALOMON

LUCAS FIGUEIREDO; MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Estratégia do Planalto é aprovar um requerimento em plenário para suspender as investigações

O presidente Fernando Henrique Cardoso perdeu ontem a primeira batalha contra a instalação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Bancos.
O início dos trabalhos está marcado para hoje, com apenas 7 de seus 13 integrantes nomeados.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirmou que a CPI é um "direito da minoria" ao anunciar o início das investigações e contestar o argumento do governo de que a comissão de inquérito é inconstitucional.
O governo vai tentar reverter amanhã a derrota de ontem. A estratégia do Palácio do Planalto é aprovar um requerimento em plenário para suspender as investigações antes que elas avancem.
Os líderes de partidos aliados a FHC precisam mobilizar a maioria dos senadores presentes ao plenário para bloquear os trabalhos.
A decisão final está prevista para 48 horas, contadas a partir de ontem à noite, e ocorrerá depois que a Comissão de Constituição e Justiça tiver sido ouvida.
Miranda
"O plenário pode barrar a CPI", admitiu o senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), criador e integrante da comissão de inquérito. "Mas não acredito que isso aconteça, porque seria uma desmoralização", completou.
Sarney teve papel fundamental ontem para estragar os planos do governo. A Folha apurou que ele teria ficado irritado com as notícias de que negociara com o esvaziamento do inquérito. "A CPI não é nenhuma catástrofe", insistiu.
Sarney condenou de imediato a principal arma dos governistas: um pedido apresentado pelo líder do PFL, Hugo Napoleão (PI), para que arquivasse a CPI.
Para os governistas, falta um "fato determinado" para a criação da CPI. O requerimento, assinado por 29 senadores, há duas semanas, pede a apuração de prejuízos da União na intervenção em bancos, fraudes em balancetes e a remessa ilegal de moeda ao exterior.
Ao fazer a defesa do governo, Napoleão classificou a CPI de "inconstitucional, inconveniente e inoportuna". A ação do PMDB também foi determinante, ao indicar os quatro representantes de sua quota na CPI entre os mais radicais opositores do governo.
O líder Jáder Barbalho (PMDB-PA) apresentou a seguinte justificativa para negar "solidariedade" ao governo: "Não tenho dúvida de que Fernando Henrique Cardoso, antigo líder do PMDB, não teria nenhuma divergência se estivesse aqui", disse.
"O PMDB não indicou representantes, indicou um pelotão de fuzilamento", brincou o líder do PPB, Epitácio Cafeteira (MA). Ele oficializou ontem cedo a indicação do representante de seu partido, que também integra a base de apoio do governo: o presidente da legenda, senador Esperidião Amin (SC).
Cafeteira não é um defensor irredutível da CPI. Questionado ontem se considerava a comissão irreversível, disse: "Vai haver aqui uma belíssima batalha campal".
Outra estratégia discutida pelo governo é evitar hoje a instalação da CPI dos Bancos. Para isso, basta que um dos sete representantes já indicados falte à reunião das 18h.

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