São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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Para o mercado financeiro, CPI não vai funcionar

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A opinião dominante nos meios financeiros, até ontem, era a de que a CPI dos Bancos não vai funcionar, mesmo tendo sido instalada.
No final da tarde, quando circulou a informação de que o presidente do Senado, José Sarney, havia instalado a CPI, houve certo nervosismo no mercado.
Mas, como as operações já estavam encerradas, não se pode avaliar a consequência. De todo modo, prevaleceu a expectativa de que há acordo para que a CPI seja barrada na Comissão de Constituição e Justiça e no plenário do Senado.
Em pelo menos dois grandes bancos, segundo a Folha apurou, circula a informação de que o próprio Sarney mandou dizer, por meio de interlocutores privilegiados, que a CPI é antes uma ameaça política ao governo FHC.
Expectativa Os destinatários aceitaram a informação, mesmo sabendo que em política as coisas sempre mudam. Ocorre que ninguém acredita que Sarney queira expor seu governo (1985-1990) a uma investigação.
Isso fatalmente ocorreria, já que os problemas do sistema financeiro começaram no governo Sarney.
Em resumo, como se dizia ontem no jargão do mercado financeiro, "os preços (taxas de juros e câmbio) até aqui embutem a expectativa de que não haverá CPI".
Isso significa que, se a CPI funcionar, a instabilidade ocorrerá bruscamente. E o cenário com CPI é visto assim: dificuldades imediatas para um grupo de 15 a 20 bancos e fim das negociações para os casos Econômico e Banespa.
Isso aconteceria, sempre conforme os meios financeiros, porque o Banco Central estaria paralisado.
Ninguém no BC se arriscaria a assinar qualquer acordo ou autorizar qualquer empréstimo enquanto a CPI estivesse funcionando.
Situação precária Por outro lado, é opinião disseminada no mercado financeiro que, no momento, há de 15 a 20 bancos em situação precária.
Essas instituições ou não concluíram o processo de ajuste a um ambiente sem lucro inflacionário ou concederam muitos empréstimos de recebimento duvidoso.
Enquanto não se arrumam, elasdependem de financiamento de outros bancos ou do BC ou ainda do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, braços do BC.
Os bancos privados já estão seletivos na concessão de financiamentos. E deverão sair do mercado em caso de maior incerteza. O problema cairá inteiro nas mãos do BC. E, se este estiver paralisado, a confusão não será pequena.
Em resumo, o panorama é o seguinte: o sistema bancário ainda não está ajustado. O ajuste, com uma necessária redução no número de bancos, pode ser feito de modo mais ou menos traumático, em prazo maior ou abruptamente.
Na avaliação mais comum do mercado financeiro, a CPI é uma possibilidade ainda remota. Mas, realizando-se, precipita o ajuste mais traumático. Com custos maiores, inclusive para o governo.

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