São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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Governo nega reparação a desaparecidos

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pela primeira vez desde que foi instalada, em janeiro deste ano, a comissão criada pelo governo para aprovar indenizações de familiares de mortos e desaparecidos do regime militar (1964-1985) recusou dois casos.
Trata-se dos processos de Arno Preis, morto em 1972, em Goiás, e de Hamilton Fernando Cunha, que morreu em 1969, em São Paulo.
A reunião foi realizada anteontem. Outros nove casos entraram na lista de indenizações.
Também pela primeira vez na história da comissão um parente de uma autoridade dos governos militares foi beneficiado. Trata-se de Alberto Aleixo, irmão de Pedro Aleixo, vice-presidente de Costa e Silva (1967-1969).
Aleixo era militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro). Foi morto em agosto de 1975, no Rio, após ser preso em uma batida policial a uma gráfica do PCB. Tinha 72 anos. Suspeita-se de tortura.
Nos casos recusados, a maioria dos integrantes da comissão preferiu acreditar na versão oficial sobre as mortes. No caso de Preis, a versão diz que ele reagiu à prisão e matou um policial antes de ser morto.
Preis era militante do Molipo (Movimento de Libertação Popular). No caso de Cunha, da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), a versão oficial diz que ele foi morto por um companheiro de partido, durante invasão da polícia a uma gráfica, em São Paulo.
Integrante da comissão, Suzana Lisboa, da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, diz que nos dois casos a "versão oficial é mentirosa". Segundo ela, os dois foram mortos por agentes do Estado, tendo direito a indenizações.
No caso de Preis, votaram favoráveis apenas Suzana e o deputado Nilmário Miranda, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Os outros cinco integrantes da comissão votaram contra.
Entre os que votaram contra está Eunice Paiva, viúva do deputado Rubens Paiva, morto após ser preso em 1971, no Rio. Eunice integra a comissão a convite do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Também votaram contra o presidente da comissão, Miguel Reale Júnior; João Grandino (representante do Itamaraty), Oswaldo Pereira Gomes (Forças Armadas) e Paulo Gonet (Ministério Público).
No caso do julgamento de Cunha, o resultado foi quatro votos contra três. Além de Suzana e Nilmário Miranda, também votou a favor João Grandino. A indenização da família de Alberto Aleixo foi aprovada por unanimidade.
Com as nove indenizações aprovadas na reunião de anteontem, eleva-se a 48 o número de mortos cujos familiares terão direito a esse benefício.
Ao criar a comissão, o governo havia estendido a indenização a outros 136 desaparecidos.

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