São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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Sinfônica de Berlim desaponta

WILLIAM LI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Após sua apresentação ao ar livre domingo no Parque Ibirapuera, estreou segunda-feira passada no Teatro Municipal de São Paulo a Orquestra Sinfônica de Berlim, tendo como solista Arthur Moreira Lima. No programa, obras de Mozart, Chopin e Brahms. Foi um concerto de altos e baixos.
A Sinfônica de Berlim, que não deve ser confundida com a célebre Filarmônica de Berlim, foi criada apenas em 1966, e dedica-se praticamente a divulgar o repertório erudito alemão. De grandes dimensões e sonoridade possante, seu forte é o romantismo tardio, como foi comprovado no concerto de segunda-feira.
Se a primeira impressão é a que fica, a orquestra começou mal, com uma interpretação pesada, lenta e exagerara da Abertura de "Don Giovanni" de Mozart. O que se costuma fazer nestes casos é reduzir o tamanho da orquestra para que fique adequada com o teor da obra. Neste caso, a Sinfônica de Berlim feriu os ouvidos clássicos.
Em seguida, o primeiro romantismo de Chopin com seu "Concerto para Piano e Orquestra Nº 1 op. 11 em Mi Menor", tendo Arthur Moreira Lima como solista.
A orquestra, agora sim, estava no seu ambiente, com sua sonoridade possante nos "tutti" e acompanhando o solista discreta e melodiosamente. No entanto, Moreira Lima não esteve à altura desta virtuosística obra de Chopin. Desde as primeiras notas, Moreira Lima tentou esconder seus esbarrões por um uso abusivo do pedal, o que ocorreu durante toda a execução deste concerto.
Além disso, Moreira Lima não conseguiu extrair nenhum "cantabile", que aparecem tanto no tema principal do primeiro movimento como no segundo tema na relativa maior. Em suma: Moreira Lima não atingiu o mínimo, que é o virtuosismo e a espontaneidade frente a esta complexa partitura para, a partir daí, criar sua concepção da música.
O ponto alto do concerto foi a peça com que encerrou: a Quarta Sinfonia de Brahms. Aí a orquestra estava em seu ambiente e deu o tom exato à monumental obra brahmsiana.
A máquina musical alemã esteve perfeita, no equilíbrio entre os naipes, no grau de sonoridade, na precisão entre os naipes e sobretudo na caracterização do romantismo tardio de Brahms.
Ovacionada pela platéia que lotou o Municipal, a orquestra deu dois bis.

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