São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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Computador a todos

GILBERTO DIMENSTEIN

Numa degola de proporções desconhecidas para a classe média com diploma universitário, as empresas americanas demitiram, nos últimos seis anos, 15,2 milhões de pessoas em cargos de chefia.
Boa notícia: em meio ao trauma, o país começa a produzir anestésicos para diminuir a insegurança.
Engendrados nas universidades e centros de pesquisa,com as bênçãos dos principais formadores de opinião e da imprensa, os anestésicos partem da premissa de que a veloz rotatividade no emprego veio para ficar, causando inevitáveis dores.
É possível, entretanto, conviver melhor com a dor, redefinindo a relação entre empregado e empregador.

Para reduzir o trauma e a ansiedade gerados pelo desemprego, a empresa, pressionada por competição internacional e avanço tecnológico, deve transformar-se numa espécie de centro de treinamento. Em essência, uma escola.
Se, de um lado, as empresas não conseguem garantir o emprego, podem, de outro, aperfeiçoar seus funcionários, aumentando seus conhecimentos para enfrentar as adversidades do mercado.
Da parte do empregado haveria também mudança de mentalidade. Romperia com noções antigas, tornando-se um permanente aprendiz, aberto a novas tendências e descobertas.

Dizem que se conselho fosse bom, cobravam. Portanto, o leitor pode pular este parágrafo. Mas, a partir da minha experiência aqui, acredito que no Brasil o pior ainda não chegou: os americanos estão mais expostos à competição e aos efeitos da tecnologia.
Para garantir sua sobrevivência futura no mercado, o profissional brasileiro deve, para começo de conversa, aprender bem inglês e entrar na Internet com unhas e dentes; aliás, aconselho cursos intensivos de inglês em universidades americanas durante as férias de verão, que oferecem bons preços.
Se quiser economizar, é fácil alugar quartos perto da universidade por menos de US$ 300 por mês.

Também há nas universidades cursos rápidos apenas sobre Internet. Ao manejar esse mundo, é possível entrar nos centros de pesquisa mais avançados, ler diariamente as publicações da Europa e EUA, relatórios de cientistas, livros que vão ser publicados.

Mais capacitado será este profissional se aprender a falar e escrever em espanhol, a língua das Américas, que terá cada vez mais importância para o Brasil, por causa da ampliação do Mercosul e do Nafta, o acordo que liga Canadá, México e EUA. O português é uma língua maravilhosa, mas infelizmente inútil em termos de comunicação global.

Insisto: a Internet é, hoje, o novo limite do analfabetismo.
As escolas têm obrigação de ensinar a manusear a rede mundial de informação via computador, assim como ensinam matemática, português ou biologia. O presidente Bill Clinton promete interligar todas as salas de aula dos Estados Unidos à Internet até o ano 2000 (se for reeleito).
No Brasil, nem giz tem em sala de aula de escola pública, sem falar no salário de fome dos professores.

Ao defender o nome de José Serra para prefeito de São Paulo, FHC quer um candidato a mais ou um ministro a menos?

PS - Leio que o governo barganha com o PPB o Ministério da Previdência para evitar a CPI dos bancos. Deveriam chamar de Ministério da Imprevidência e, de castigo, aposentar os negociadores -não com salário de IPC, claro.

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