São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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FISIOLOGIA

O Aurélio define "fisiologia" como "parte da biologia que investiga as funções orgânicas, processos ou atividades vitais, como o crescimento, a nutrição, a respiração etc.". A acepção política do termo -não-registrada pelo Aurélio- tem um sentido completamente diferente, mas cuja significação original dá bem a medida de como se deterioraram os partidos brasileiros, a ponto de negociatas, trocas de favores e de cargos e coisas ainda piores já serem consideradas um "processo vital", tão natural quanto a respiração, e não mais uma aberração que deveria o mais rapidamente possível ser extirpada.
A confirmarem-se as informações apuradas por esta Folha, de que o PPB de Paulo Maluf e Esperidião Amin trocaria seus votos na reforma da Previdência por um ministério, não se poderá mais ter dúvidas de que há algo de profundamente errado com a forma de fazer política neste país.
É evidente que a divisão do poder entre as diversas legendas que sustentam um mesmo governo é um processo democrático e legítimo, desde que haja um mínimo de identidade programática entre as agremiações. Esse não parece ser o caso do PPB, que, de resto, é apenas um exemplo do grau de fisiologia com que atua a grande maioria dos partidos políticos brasileiros.
Pior ainda, o PPB age com um bifrontismo insuspeito. Enquanto compõe com o governo na Previdência, atua contra ele na CPI acerca do sistema financeiro -independentemente do mérito de o Planalto ser contra a investigação-, já insinuando que poderá vir a negociar no futuro. É uma forma de, ao mesmo tempo, posar de paladino da moralidade e, principalmente, cobrar mais pelos "serviços prestados".
Esse novo espetáculo fisiológico apenas reforça a necessidade de se proceder às reformas políticas no país. Mesmo que não ponham um fim a essa prática, podem, ao menos, torná-la um pouco mais tolerável.

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