São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 1996
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MAIS BC

Se o objetivo for zelar pelo interesse público e pela estabilidade da moeda, é de se esperar que as críticas à atuação do Banco Central sirvam para conferir maior autonomia e autoridade à instituição.
Nos episódios do Banespa, do Banco Econômico e do Nacional, a demora da intervenção do BC pode ser atribuída à omissão, pois seus técnicos curvam-se a pressões políticas ou de grupos econômicos, mas não ao fato de a instituição exercer poder excessivo ou com demasiado rigor.
Pode parecer paradoxal conferir ainda maior autoridade e apoio a uma instituição que é alvo de críticas. Mas o que seria contraditório, isto sim, seria apropriar-se da constatação de que o BC agiu com pouca energia para acabar retirando poderes de que hoje o banco dispõe.
Seria mesmo uma completa inversão de princípios se, por exemplo, a CPI dos Bancos servisse para que políticos obtivessem maiores favores do governo federal em auxílio, por exemplo, de bancos apaniguados.
A demora do Banco Central em constatar irregularidades e, de maneira geral, em prevenir situações que pudessem debilitar a confiança no sistema financeiro pode, no máximo, desmerecer a atuação de algumas diretorias e técnicos, mas não devem manchar de maneira alguma o papel da própria instituição.
Não resta dúvida de que os sinais de fraude no Banco Nacional precisam ser rigorosamente apurados e que, se confirmados, devem levar à punição exemplar dos responsáveis.
Do ponto de vista institucional, entretanto, a discussão mais frutífera sobre o Banco Central está nas possibilidades de conferir-lhe maior eficiência, tanto do ponto de vista técnico como operacional.
Entre os países desenvolvidos e de economia mais estável, os arranjos institucionais diferem, mas não muito. Em alguns, a fiscalização é feita pelo próprio BC, em outros, por algum órgão específico. De maneira geral, os diretores dos bancos centrais têm mandatos fixos, que não coincidem com os do presidente da República, o que não ocorre aqui.
Com ou sem alterações dessa ordem, o fato é que a estabilidade e a moralidade exigem um BC mais atuante, não menos.

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