São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
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'Meu estudo é pouco, não nego'

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA

Com apenas um ano de estudo, Salete Martins de Menezes, 41, tornou-se professora da 3ª série de Brejão, a 35 km da sede de Pedro Alexandre, no sertão da Bahia.
Ela conseguiu o diploma da 1ª série do 1º grau há 30 anos e há três anos alfabetiza cerca de 50 alunos em sua própria casa. Para o trabalho, ela tem um salário de R$ 23 da prefeitura, mas recebe R$ 40 mensais por dar aulas em dois turnos.
Ela não sabe fazer prova, chamada ou preencher o diário de classe.
Para dar aula, usa uma lousa que ela mesma comprou. Não há merenda nem carteiras -os alunos estudam sentados no chão da sala e da varanda.

Agência Folha - Como a sra. avalia seus alunos?
Salete - Meu estudo é pouco, não nego. Não sei fazer prova nem preencher o diário de classe. Sei que um aluno aprendeu quando ele faz as mesmas coisas que eu.
Agência Folha - O município não exige as provas da sra.?
Menezes - Eles não podem exigir muito de mim. Como ganho pouco, acho que eles devem ter tolerância comigo. No ano passado, dos 51 alunos, só meu filho e a filha da vizinha passaram. O resto não sabe nada e não pode sair do pré.
Meu filho foi para o primeiro ano e já vai me ajudar a ensinar. Ele já escreve o nome todo. A filha da vizinha já está no terceiro ano.
Agência Folha - Como a sra. dá aulas para uma aluna da 3ª série?
Salete - Como também não sei nada da 3ª série, o jeito é aprender junto com ela.

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