São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
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"Clube dos R$ 100 bi" assusta os bancos

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A quebradeira de bancos após o Real trouxe à tona o poder de fogo de um restrito grupo de megainvestidores, donos de uma bolada estimada em R$ 100 bilhões, quase a metade da poupança financeira do país.
Essa "troupe", formada por cerca de duas centenas de investidores -fundos de pensão, fundos de investimento e grandes grupos empresariais-, mostrou seu poder de desestabilização quando tombaram os gigantes Banespa, Econômico e Nacional e os vinte e poucos bancos nanicos liquidados pelo Banco Central em dois anos.
Agentes modernos das corridas bancárias deste final de século, os investidores institucionais são capazes de quebrar um banco em questão de segundos, ao cancelarem suas aplicações milionárias em instituições vítimas de boatos.
Um lacônico telefonema, hoje em dia, assusta mais os banqueiros do que filas nos caixas das agências bancárias em dia de boato.
Velhinha
"Não é mais a velhinha de Taubaté que se assusta com boatos e quebra um banco ao sacar seu dinheiro e contar correndo às amigas", diz o diretor do Citibank, Luís Eduardo de Assis.
"Antes de ela ficar sabendo alguma coisa, os grandes investidores já esvaziaram suas aplicações."
Foi o que aconteceu, por exemplo, no extinto Nacional. Na corrida bancária que precedeu a intervenção do BC, em novembro do ano passado, o Nacional perdeu cerca de R$ 3 bilhões em questão de dias, dos quais pelo menos R$ 2,5 bilhões foram sacados por grandes clientes, segundo um ex-alto-executivo da tesouraria do banco.
Multinacionais, fundos de pensão e outros bancos, que compravam CDB (Certificados de Depósito Bancário) do Nacional para compor seus fundos de investimento, foram os primeiros a desconfiar de que algo de podre rondava o banco carioca. Quando a clientela miúda reagiu aos boatos, o banco já estava quebrado.
"Os grandes aplicadores têm um poder muito grande de desestabilização, principalmente junto aos bancos sem poder de barganha", diz Alfredo Neves Penteado Moraes, diretor de captação da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos).
"Eles ouvem os boatos em primeira mão e se movimentam muito rapidamente."
Corrida eletrônica
A discussão sobre a natimorta CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do sistema financeiro revelou que o verdadeiro fantasma que assombra os banqueiros não é a Lei do Colarinho Branco -afinal, até hoje nenhum banqueiro brasileiro cumpriu pena da Justiça por crimes contra o sistema.
O medo, hoje, é de uma corrida bancária qualificada e eletrônica. Foi esse tipo de corrida que assustou o Banco BMD, no início do mês, quando uma desastrada declaração de um funcionário do BC jogou o banco na escaldante fogueira das supostas fraudes de balanços. O estrago foi grande.
No primeiro dia útil após o incidente, o BMD perdeu somente R$ 3 milhões nas suas 33 agências, em aplicações não renovadas. À noite, durante a compensação eletrônica dos cheques dos clientes, a fuga elevou-se para R$ 30 milhões, atingindo cerca de 12% das aplicações totais no banco.

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