São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Os falsos salvadores do BB

ALOYSIO BIONDI

É preciso recorrer ao bê-á-bá econômico para explicar a "quebra" do Banco do Brasil e a operação de socorro do governo.
Assim, será possível mostrar as mentiras e entender as operações de lesa-país praticadas por governantes. Ponto por ponto, eis a realidade, sem preocupações técnicas.
Falsa quebra - um banco só quebra quando surge um grande rombo, quando deve muito mais do que tem a receber.
Não é o caso do BB. Ele tem R$ 57 bilhões de dívidas (R$ 53 bilhões de depósitos). E tem R$ 54,2 bilhões a receber (R$ 37 bilhões em empréstimos). O rombo seria de R$ 3 bilhões. Administrável ao longo do tempo.
Mais capital - Por que então o governo está aumentando o capital do BB em R$ 8 bilhões? Por causa de regras internacionais. Com a globalização, a especulação no mercado financeiro movimenta trilhões de dólares. Uma crise do mercado em qualquer país pode gerar uma "quebradeira" geral.
Para evitar esse risco, os governos assinaram um acordo, que obriga os países a fixarem regras iguais para bancos (Acordo de Basiléia). Assim, os bancos devem emprestar no máximo dez vezes o seu capital.
O BB tem R$ 53 bilhões em depósitos -mas um capital próprio (dos acionistas) de R$ 3,5 bilhões. O limite de seus empréstimos não se baseia nos depósitos (que pertencem aos clientes) e sim do capital. Aumentando seu capital, aumenta a sua capacidade de emprestar.
Prejuízos - E o prejuízo de R$ 4,2 bilhões em 95? Aqui, é preciso dissecar as regras dos balanços dos bancos. Os lucros são representados pela diferença entre receitas e despesas no ano.
Quando os devedores atrasam o pagamento, suas dívidas vão para o balanço como despesas naquele ano -reduzindo os lucros ou criando prejuízos.
O prejuízo do BB significa que em 95 ele lançou, no balanço, empréstimos cujo pagamento está atrasado.
O massacre - O BB tem a receber R$ 18 bilhões em empréstimos vencidos. São dívidas do governo ou que o governo fez o banco engolir. Seus "salvadores" são os seus carrascos.
Bonzinhos
O governo federal deve R$ 5,2 bilhões ao BB. Discute alguns desses débitos. Mas, em 95, reconheceu parte dessas dívidas -e anunciou que ia pagá-las. Eram R$ 2,2 bilhões, em outubro. Se tivesse pago, o balanço do BB seria outro.
Apropriação
O BB tinha ações da Acesita. Com o programa de privatização, essas ações foram vendidas. O Tesouro ficou com o dinheiro. Foram mais R$ 800 milhões não-pagos.
Esfola
O BB foi forçado a comprar R$ 5,5 bilhões em títulos da dívida externa brasileira. Dinheiro parado, ou rendendo juros ridículos (internacionais). Se fosse emprestado aqui, teria rendido R$ 1,5 bilhão ao ano.
Pára-raios
As dívidas não-pagas ao BB pelos produtores agrícolas chegam a R$ 7 bilhões. O governo fez um acordo para rolá-las. "Pagaria" o BB com títulos. Mas os novos contratos entre o BB e os agricultores somente agora estão sendo feitos. As dívidas provocaram rombo no balanço de 1995.
Sem mito
Não há paralelo entre o rombo do BB e o rombo do Nacional ou do Econômico.
Nassif
No interesse do leitor, esta coluna não poderia deixar de falar do "caso" BB. Ficam para terça-feira as ponderações deste colunista às observações feitas pelo confrade Luís Nassif, na última quinta-feira, dia 21.

Texto Anterior: Imposto federal atrasado paga juro da dívida pública
Próximo Texto: Mudar a legislação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.