São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
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Desempenho econômico de 95 foi o melhor

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

O cartão de visita que o presidente chileno Eduardo Frei apresentará a seus interlocutores brasileiros, ao iniciar hoje sua visita oficial, é imponente.
Dirá que o Chile viveu em 1995 "o melhor ano de sua história econômica conhecida".
Os números avalizam a tese: o país cresceu 8,4% no ano passado, um índice asiático.
Pela primeira vez em mais de 30 anos, o número que mede o crescimento econômico superou o que calcula a inflação, que foi de apenas 8,2%. O desemprego caiu de 6,3% para 4,5% da população economicamente ativa.
Melhor ainda: não se trata de um ano isolado, mas do 12º ano consecutivo de crescimento econômico.
É por dados como esse que o badalado economista norte-americano Jeffrey Sachs (Universidade de Harvard) inclui o Chile como único país latino-americano na sua lista de oito "superperfomers", países que apresentam excepcional desempenho econômico.
Mesmo na área social, os dois sucessivos governos democráticos (o de Frei e o de seu antecessor, Patrício Aylwin, ambos democratas-cristãos) obtiveram alguns êxitos inegáveis.
Em 1990, quando o general Augusto Pinochet, ditador desde o golpe militar de 1973, entregou o governo, havia 5,4 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza no Chile. Ou 40,1% da população total com um rendimento mensal máximo de US$ 60.
Hoje, os pobres ainda são muitos, mas um forte investimento social reduziu-os a 4,3 milhões (32,7% da população).
Qual é o segredo do Chile? Parte vem da resposta de Alejandro Foxley, que foi ministro de Economia no governo Aylwin e hoje é o presidente da democracia-cristã:
"Há elementos que seriam válidos para todos os países", diz ao citar disciplina fiscal, abertura da economia e um conjunto de políticas que dá maior liberdade ao setor privado.
Acrescenta Foxley: "Mas eu adicionaria um ponto, que é a importância do papel do governo, garantindo o investimento público em infraestrutura e gerando receita suficiente para poder destinar muitos recursos ao investimento no setor social".
O presidente Frei afirma: "Creio que poucos países no mundo investem 70% de seu Orçamento na área social, como se está fazendo no Chile".
Investimento Há elementos de política econômica que contrastam fortemente com as teses predominantes no governo brasileiro.
A indexação, por exemplo, verdadeira anátema no Brasil, é elogiada pelo presidente do Banco Central chileno, Roberto Zahler.
Acha-a "crucial para o sistema financeiro e para desenvolver a poupança, em um país com história tão longa de inflação".
Além disso, o Chile vem mantendo um tipo de câmbio favorável às exportações, ao contrário do Brasil, que supervalorizou a moeda.
O país consegue taxas de poupança interna e de investimento bastante superiores às brasileiras.
O investimento, por exemplo, atingiu em 1995 a altura, igualmente asiática, de 31,7% do PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas em um país).
Por tudo isso, Eduardo Frei desembarca hoje em Brasília podendo encher a boca para dizer: "Temos hoje um processo de desenvolvimento muito sólido que nos permite visualizar o futuro de maneira diferente".

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