São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
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Previdência privada está em teste

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

A grande estrela da ascensão econômica chilena -o seu sistema de Previdência privada, criado pela ditadura há 15 anos- ainda não passou pelo seu teste definitivo.
Está na fase em que entra muito mais dinheiro do que sai. Os contribuintes regulares são 3 milhões mais 2 milhões de eventuais (trabalhadores temporários, por exemplo). Os já aposentados pelo sistema são apenas 200 mil.
Ou seja, há 15 pessoas pagando ao sistema para cada uma que dele recebe, mesmo que se limite a comparação aos 3 milhões de contribuintes regulares.
No Brasil, para cada aposentado há apenas 2,2 contribuintes, conforme dados recentes do Ministério de Previdência Social.
Até a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), entusiasta do modelo, admite, em texto de sua revista "Notícias":
"A real eficiência do modelo, no entanto, só será comprovada por volta do ano 2010, quando um número significativo de afiliados começar a receber suas aposentadorias", afirma o texto.
Já o presidente Eduardo Frei queixa-se do ônus que o Estado ainda virá a ter, quando chegar a hora de pagar direitos já adquiridos no momento em que se instalou a Previdência privada.
Alavanca
Acumularam recursos de US$ 24,4 bilhões, uma pilha nada desprezível em qualquer país e muito mais em um Chile cujo PIB é de US$ 62 bilhões aproximadamente.
Seria o mesmo que, no Brasil, dispor-se para investimentos de uma massa correspondente a quase 40% da riqueza nacional (portanto, US$ 240 bilhões, se se considerar o PIB brasileiro como sendo de US$ 600 bilhões).
Para o chileno comum, em todo o caso, as AFPs não são um modelo. Uma pesquisa da empresa Mori, no final do ano passado, mostrou que as AFPs e as Isapres (Instituições Privadas de Saúde, a versão chilena do seguro saúde) são as menos cotadas no ranking das instituições locais. Os bancos é que estão no topo da lista.
As Isapres são, no momento, o foco de maior polêmica, sob a acusação de terem aumentado abusivamente seus preços.
Alejandro Foxley, o presidente da DC, acusa: "As Isapres têm 4 milhões de filiados mas, no ano passado, atenderam apenas 1.200 casos de enfermidades catastróficas" (as de maior custo).
Segundo seu companheiro de partido, o senador Mariano Ruiz Esquide, presidente da Comissão de Saúde do Senado: "É inadmissível que as Isapres tenham tido lucros de US$ 43,79 milhões (em 1995), equivalentes a uns 30% de seu capital".
(CR)

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