São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
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Habeas corpus

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O presidente Fernando Henrique Cardoso fez tudo errado na condução do episódio CPI dos Bancos, mas, não obstante, sua popularidade, em São Paulo ao menos, subiu de 32% para 38%, se medida em termos dos que julgam "ótima/boa" a sua gestão.
É o que diz o público, conforme o demonstram os dados da pesquisa do Datafolha que este jornal publica hoje.
Aí, pode-se escolher entre uma de duas conclusões:
1 - O tal de povo não entende nada de nada. Afinal, como pode subir a popularidade de quem erra tanto em um episódio crucial como esse?
2 - A estabilidade da economia (leia-se: inflação baixa) é uma catapulta para o prestígio ainda maior do que diria a sabedoria convencional.
Só assim se explica porque o erro em uma determinada ação não incide no julgamento de toda a gestão presidencial.
Ou, jogando para a frente: FHC pode fazer as bobagens que quiser, mesmo que o público as considere como tais, desde que mantenha a inflação sob controle. Enquanto o fizer, terá prestígio popular.
Não é nem sequer uma conclusão nova. Na Argentina, o presidente Carlos Menem viu-se cercado de suspeitas bem mais cabeludas, envolvendo até narcotráfico por pessoas da família, mas elas não colaram. Tanto que Menem reelegeu-se e já no primeiro turno, na eleição de 1995.
Ou, se se preferir recuar para o passado recente: José Sarney também carregava o seu fardo de acusações, inclusive a relativa ao episódio da concorrência fraudulenta da Ferrovia Norte-Sul.
Mas o Cruzado catapultou-o a uma popularidade recorde (maior, aliás, do que a de FHC na mesma altura do mandato).
A estabilidade é, portanto, um habeas corpus preventivo. O perigo é o presidente tomar o habeas corpus como um julgamento definitivo.

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