São Paulo, domingo, 24 de março de 1996
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Sinal de alerta

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

As informações econômicas que chegam da Ásia são de fazer inveja. A região vem crescendo de forma acelerada. O PIB da China, Tailândia, Coréia do Sul e Taiwan simplesmente dobrou de 1985 para cá. O nível de inflação da maioria dos países da região tem sido baixíssimo.
Vejam o caso de Taiwan. O país cresceu cerca de 8% na última década. Tem uma renda per capita de US$ 13 mil e uma inflação de 3,5% ao ano. O país chegou a acumular quase US$ 100 bilhões de reservas cambiais.
Os analistas econômicos são unânimes em prever que a China e todo o sudeste asiático constituem a região do futuro. Há antevisões de um PIB asiático muito superior ao americano a partir do ano 2005.
Tudo isso seria realmente espetacular se aqueles povos pudessem garantir a paz. Mas esse não é o caso. As ameaças que a China vem fazendo sobre Taiwan dão uma idéia do grau de instabilidade política que continua reinando na região.
As manobras chinesas foram promovidas porque Taiwan programou para ontem uma eleição para escolher democraticamente o seu presidente. Para a China, tal decisão foi considerada como um gesto de inaceitável ousadia e própria de um povo rebelde.
Antevendo uma reação americana, funcionários chineses ameaçaram Los Angeles com uma "chuva de bombas atômicas".
É triste ver um povo educado e competente -como o taiwanês- ser barrado na sua trajetória pela força de uma nação poderosa e que não desiste da pressão militar.
Por outro lado, o episódio deixa claro que as chamadas economias do futuro do sudeste asiático enfrentam o grande risco de terem o seu progresso econômico atropelado por disputas intestinas e que, certamente, afetarão o seu desempenho nos mercados doméstico e internacional.
Que feliz é o brasileiro que vive numa paragem pacífica -não se metendo com ninguém e tampouco ameaçado pela cobiça alheia.
Por outro lado, é pena ver o nosso Brasil capenga no campo econômico. Nossas exportações são tímidas quando comparadas com as dos Tigres Asiáticos.
Os investimentos produtivos continuam minguados em vista das necessidades da nação. Os bons empregos estão cada vez mais escassos como decorrência da pequenez dos investimentos.
A aprovação da reforma da previdência nesta semana foi positiva. Mas há várias outras que já deveriam ter sido feitas há muito tempo. Por que não tirarmos vantagem do favorável clima de paz e explorarmos, no limite, as potencialidades deste grande país?
Essa é a pergunta que gostaria de ver respondida por aqueles que continuam conspirando contra as reformas da nossa Constituição.
O mundo é assim. Quem tem força para crescer não tem paz para sustentar o futuro. Quem tem paz para desfrutar o presente não tem condições para crescer o necessário.

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