São Paulo, terça-feira, 26 de março de 1996
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QUAL BRASIL?

A série de reportagens sobre educação publicada no domingo por esta Folha é implacável. Os números levantados pelo Unicef/IBGE sobre analfabetismo juvenil são de fato assustadores e denunciam a existência de um fosso entre dois Brasis.
Dos 50 municípios com melhores índices de educação, nada menos do que 68% estão no Rio Grande do Sul, Estado fortemente marcado pela imigração alemã e italiana do final do século passado. Esse tipo de imigração caracteriza-se ainda por ser de pessoas que abandonaram suas terras ancestrais para aqui se estabelecer e viver melhor, livres de perseguições ou simplesmente pelo acesso mais fácil à terra. Quando a comunidade se instalava a primeira obra a ser construída era a escola, não a igreja.
As demais cidades com melhores índices de analfabetismo distribuem-se basicamente por outros Estados do Sul e São Paulo. Nenhum Estado do Norte ou do Nordeste.
Já quando se buscam os piores índices, apenas o Norte e o Nordeste colaboram com a lista. É difícil não atribuir esse fenômeno, entre tantos outros fatores, ao tipo de colonização que acabou gerando a figura dos coronéis, principais interessados em manter um povo ignorante e dócil.
Existem pelo menos dois Brasis, um herdeiro dos pioneiros que buscavam aqui uma liberdade que lhes era negada em suas terras; o outro tributário de séculos de desmandos e da aposta na ignorância como forma de contenção de demandas sociais. Ambas as fórmulas atingiram seus resultados. Não é difícil escolher a que se deseja. Falta agora é implementá-la.

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