São Paulo, terça-feira, 26 de março de 1996
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Omissão

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Em 1970, os brasileiros éramos 90 milhões em ação, uma parte deles embriagada pelo chamado milagre econômico e, uma outra parte, sob tortura nos porões do regime.
A oposição pregou o boicote às eleições daquele ano e foi parcialmente bem-sucedida. Considerando-se a abstenção e os votos brancos e nulos, apenas 54,01% do eleitorado emitiu votos efetivos para a Câmara dos Deputados.
É terrível constatar-se que, hoje, quando já não há razões para pregar-se a abstenção, dado que as liberdades públicas têm plena vigência, os votos efetivos são inferiores aos de 1970.
Os brasileiros que se animaram a marcar um nome ou uma sigla partidária, no pleito de 1994 para a Câmara Federal, foram apenas 48,72% do eleitorado total.
Dá até para se dizer que havia mais interesse em participar em uma votação irremediavelmente manchada pela vigência dos instrumentos do arbítrio do que em pleitos quase imaculados como os recentes.
O apreço pelo voto, mostra um estudo do Conjunto Universitário Cândido Mendes sobre participação eleitoral no período 45/94, atingiu o pico em 1982 (70,18% de votos efetivos, sempre tomando como referência a Câmara Federal).
Foi o ano das primeiras eleições razoavelmente democráticas desde 1964. A partir daí, a democracia se aprofundou, mas, não obstante, caiu o interesse em votar. Dos 70,18% de 82 passou-se para 68,26% (86), 48,72% (90) e 48,23% (94).
Há duas eleições, portanto, mais gente prefere abster-se, anular o voto ou votar em branco do que escolher um candidato ou partido.
Essa renúncia a uma importante fatia da cidadania é, acima de tudo, um voto de desconfiança nos políticos. Pena que se esteja fazendo por omissão muito mais do que por ação.

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