São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 1996
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Consultores vêem crise de desconfiança

GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

A quebra e as fraudes dos bancos Econômico e Nacional deflagraram uma crise de confiança internacional em relação ao sistema bancário brasileiro.
Relatório a ser divulgado nos próximos dias pela Thomson BankWatch, uma das mais importantes avaliadoras de bancos do mundo, deve confirmar a insegurança generalizada.
Tendência semelhante começa a circular em relatórios reservados de algumas das maiores corretoras norte-americanas, como Salomon Brothers e Merryl Linch.
A avaliação é que outros bancos brasileiros possam estar em situação semelhante ao que veio à tona nos casos Econômico e Nacional.
"Ficamos inseguros, o que é ruim para o Brasil", disse ontem à Folha o presidente do BankWatch, Gregory Root. "As pessoas imaginam que se o Nacional enganou tanta gente por tanto tempo, como estariam as demais instituições."
Truques contábeis
Baseado em Nova York, o BankWatch vai informar que os truques contábeis dos bancos Econômico e Nacional somados à incapacidade de fiscalização do Banco Central deixaram os mercados mundiais inseguros sobre a precisão dos demais balanços.
Na prática, essa desconfiança dificulta que bancos de menor prestígio tomem dinheiro emprestado no exterior com a venda de títulos.
Esse relatório é um espalho de uma nova tendência nas avaliações sobre o Brasil que, do otimismo, passou para a cautela e, agora, dá sinais de pessimismo.
A tendência se nota nos relatórios de entidades privadas como Salomon Brothers, Merryl Linch ou Morgan Stanley, mas também nas conversas de técnicos do Banco Mundial ou FMI, atentos, de um lado, à crise dos bancos e, de outros, aos rombos orçamentários.
Avaliação
O próprio BankWatch, em seu relatório de novembro, anunciou que estava aumentando a avaliação do Brasil, apontando menores riscos, graças às reformas em andamento e à recuperação da balança comercial.
O BankWatch subiu a avaliação do Brasil de B para B+, o que está longe do "AA". "Se fosse um estudante americano, vocês certamente não precisariam se matricular na pior faculdade. Mas certamente também estariam muito longe de Harvard", compara Root, presidente do BankWatch.
Nas últimas semanas, somaram-se o caso Nacional, Econômico e, mais recentemente, as más notícias sobre o Banco do Brasil. Na Soros, outro grupo de investimento, é estudado até que ponto viriam em seguida os bancos estaduais, tradicionais fontes de clientelismo e desvios.

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