São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 1996
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Sobre o desarmamento

JOSÉ J. D'ANDREA MATHIAS

A principal razão do aumento da violência é a certeza da impunidade
É com tristeza que percebemos a ameaça de ações ineficientes e demagógicas como essa nova "Campanha de desarmamento", anunciada recentemente pelo senhor secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo.
Mais uma vez, as autoridades responsáveis pela segurança da sociedade se mostram tendenciosas e teimam em enxergar somente um lado da questão, interpretando erroneamente os fatos.
Achar que desarmando apenas o cidadão a polícia irá acabar ou reduzir a violência urbana é uma conclusão equivocada e inocente, para não dizer infantil. Digo isso porque os verdadeiros criminosos não tem armas registradas na polícia, não solicitam porte de arma, não se intimidam com o fato do porte ilegal ser ou não crime e, finalmente, não tem nenhuma necessidade de cestas básicas ou qualquer outro tipo de barganha, visto que eles tomam com suas armas o que quiser da sociedade.
Com um pouco de bom senso e imparcialidade pode-se fazer contas e entender que ninguém irá trocar de bom grado seu caro revólver por uma frugal cesta básica valendo-se do fator custo.
Se formos pensar na influência dos apelos de "moralidade e intenções cristãs", qual seria o cidadão que teria coragem de trocar sua arma pessoal, aquela que ele defende a si, sua família e propriedade, por uma ilusória sensação de civismo?
A principal razão do aumento da violência urbana é a certeza da impunidade e a demora da Justiça na aplicação das leis; esses sim fatores mais difíceis de serem solucionados.
Existem outras maneiras lógicas e mais racionais de se combater a violência urbana ao invés de tentar enfiar pela goela abaixo do cidadão honesto a idéia de que esse entregue candidamente sua segurança pessoal e patrimonial unicamente nas mãos da polícia.
A razão do aumento da violência é a certeza da impunidade
Basta observar que a concessão de porte de arma foi drasticamente reduzida em São Paulo, por obra do atual secretário, e a violência urbana aumentou visivelmente neste último ano.
Os secretários de segurança do Brasil devem ter a consciência de que muitos homens de bem simplesmente se negam a serem dóceis cordeiros prontos para o abate e invocam o direito universal de possuir e portar armas de fogo para assim terem as condições de se defender de uma marginalidade crescentemente violenta e bem armada.

José Joaquim D'Andrea Mathias, 39, é arquiteto, perito judicial e atirador profissional.

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