São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 1996
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SEMPRE OS MESMOS BOLSOS

O governo federal parece ter resolvido, segundo expressão em voga, "tirar os esqueletos do armário". Com um senso de oportunidade discutível, os rombos das instituições financeiras públicas vêm à luz do dia.
Curiosamente, a operação "salva tudo" é lançada quando o Proer sofre críticas duras de vários setores e a sociedade manifesta suspeitas frente às ações recentes do Banco Central.
Em meio ao tiroteio, o governo rápida e surpreendentemente anunciou a injeção no Banco do Brasil de R$ 8 bilhões. Quase simultaneamente, o governador Covas fazia suas pressões junto ao Senado para viabilizar o generoso acordo sobre o Banespa.
Nesse compasso, não espanta que o BC agora estenda a ajuda (à custa do Tesouro e sempre sem privatização) a outros bancos estaduais.
Afinal, entre os reclamos ouvidos no Senado têm ganho relevo exatamente as críticas ao que seria um suposto privilégio a São Paulo. "O governo se propôs a recuperar o sistema como um todo", disse o diretor do BC, Alkimar Moura. Recuperar sem privatizar, diga-se de passagem. E jogando mais uma vez sobre o BNDES uma parte significativa da operação financeira necessária.
Uma das "garantias" apresentadas para essas várias operações de socorro é a imposição de fortes condições aos Estados e bancos estaduais envolvidos, prevendo, por exemplo, o eventual confisco de transferências fiscais no futuro, caso os ajustes pedidos não sejam feitos. Agindo como um FMI interno, o BC quer assinar cartas de intenções, o que não constitui garantia de ajuste.
Diante de uma séria crise financeira, implementando uma política de saneamento que vinha sendo alvo de críticas crescentes e ainda sem resposta, o governo assume a missão de salvar a tudo e a todos.
E o preço, como sempre, nós os contribuintes pagaremos.

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