São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 1996
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A utopia banal

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Por fim, uma análise sem satanizações ou canonizações do primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso. Refiro-me a texto de Wanderley Guilherme dos Santos que acaba de ser publicado nos "Cadernos de Conjuntura" do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro).
O espaço me obriga a tratar de apenas um ponto (aumento do consumo causado pelo Plano Real versus redistribuição de renda), mesmo sob risco de simplificar demais. A equação elaborada por Wanderley Guilherme dos Santos parte do seguinte:
"A revolução na dieta alimentar, em calorias e proteínas, de milhões de pessoas de baixa renda veio revelar de forma literalmente palpável que o imposto inflacionário era, fundamentalmente, imposto sobre os carentes".
Perfeito. Passemos ao ponto seguinte, o que trata do poder de compra. Diz o professor que esses milhões de pessoas de baixa renda "passaram a consumir ovos e frangos porque o acréscimo marginal em seu poder de compra não lhes permitia consumir Fuscas (...) nem milhares e milhares de bens e mercadorias à disposição dos consumidores".
Continua: "Por que frango e não faisão ou peru?".
Porque "pela estabilização da moeda, é possível alterar para melhor o padrão de vida dos assalariados sem qualquer política visando especificamente a alterar o perfil de distribuição de renda".
Perfeito, de novo. Corolário: "O limite dessa política é claro. Quando a inflação estabilizar-se em torno de zero não haverá mais saltos no poder de compra da moeda", o que significa dizer que "inflação zero, no Brasil, obrigará a uma opção entre a sobrevivência estavelmente banal da maioria da população ou a intervenção no perfil da distribuição de renda".
"Sobrevivência estavelmente banal" é muito pouco, não?

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