São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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Cid Moreira vai ao ar pela última vez

Apresentador diz que será porta-voz da Globo

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

O locutor Cid Moreira, 68, vai chegar uma hora mais cedo hoje à sede da Rede Globo (no Jardim Botânico, zona sul do Rio). Ele vai gravar um texto especial para sua despedida como apresentador do "Jornal Nacional" que será apresentado hoje à noite.
Na segunda-feira, Moreira e Chapelin, 54, serão substituídos por Lilian Wite Fibe, 42, e William Bonner, 31.
Pela primeira vez, depois de 26 anos apresentando o noticiário, Cid Moreira lerá um texto na primeira pessoa, escrito por um dos redatores do noticiário. O texto vai relembrar sua carreira à frente do "Jornal Nacional".
"Ainda não sei como será a homenagem, eles estão fazendo uma surpresa para mim", disse o locutor ontem à Folha.
Moreira afirmou não ter ficado ressentido com seu afastamento do "Jornal Nacional", mas disse que o "público não gostou".
"Ninguém quer, ninguém aceita, mas eu digo para as pessoas que não tem jeito. É incrível. Sou parado nas ruas, no supermercado. Outro dia um gari me parou na rua e disse que não vai mais ver o 'Jornal Nacional"', contou.
A quantidade de cartas enviadas à Rede Globo e a Cid Moreira, protestando contra o afastamento, também é enorme, segundo o locutor.
Há poucos dias, ele recebeu uma cópia de um abaixo-assinado feito em Parnaíba (Piauí) e enviado à emissora. Nele, uma ameaça: caso Moreira deixe mesmo o "Jornal Nacional", os moradores da cidade não vão mais assistir o noticiário.
"Eu não sabia que as pessoas gostavam tanto de mim. Pensei que só minha mulher gostasse", disse Moreira, abraçando a mulher, Ulhiana Naumtchyk, 35.
Dona Elza, 92, mãe do locutor, também não gostou. Ontem ela telefonou para o filho aos prantos. "Ela chorava dizendo que não ia mais me ver. Pedi ao meu pai (Izauro, 93 anos) que explicasse a ela que também preciso de um descanso", contou.
Os protestos já levaram a emissora a reconsiderar o afastamento total de Cid Moreira do vídeo, aumentando a quantidade de editoriais. A Folha apurou que está sendo cogitada, inclusive, a possibilidade de manter três apresentadores no "Jornal Nacional".
"Acho que minha saída é irreversível, mas se decidirem me colocar de volta, só tenho uma certeza: não trabalho mais aos sábados e nos feriados", disse.
Até agora, Moreira apresentava o "JN" aos sábados a cada 15 dias.
Cid Moreira também ainda não sabe como será seu trabalho na emissora a partir de segunda-feira. Seu contrato foi renovado por cinco anos, mas com uma mudança: em vez de ser locutor-noticiarista, ele passou a ser locutor-editorialista, responsável pela apresentação dos textos com a opinião da empresa.
"A Globo quer ser uma emissora mais ativa, mais incisiva em suas cobranças. Passo a ser seu porta-voz, mas não sei como será minha participação. Só quem sabe disso é o Evandro (Carlos de Andrade, diretor de jornalismo da emissora)", afirmou.
Moreira diz que pretende continuar indo à Globo todos os dias e gravar alguma participação no noticiário. "Se eles vão colocar no ar ou não, é um problema deles."

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