São Paulo, segunda-feira, 1 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Paulinho da Viola sai do recolhimento

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Após um recolhimento de quase três meses, o cantor e compositor Paulinho da Viola, 53, prepara uma viagem para Nova York. Vai se apresentar no JVC Festival, dia 28 de junho, no Carnegie Hall.
Antes, grava seu primeiro disco desde 88. Quer esquecer a polêmica dos cachês diferenciados para os artistas que fizeram o show de réveillon no Rio: "Tive uma grande decepção, mas amadureci".
*
Folha - Sua apresentação no JVC Festival, no Carnegie Hall em Nova York, será a primeira desde o réveillon. Como será o show?
Paulinho da Viola - Ainda não sei. O que sei é que é um festival com pessoas de outros países. Faço meu show sozinho. Vai ser bom.
Folha - Antes da polêmica dos cachês, você preparava a volta aos estúdios. Como anda este projeto?
Paulinho - Gravei uma música, "Dama de Ouro", mas ainda não decidi o repertório. Já deveria ter entrado em estúdio há mais tempo. Agora, espero começar no final de abril. Em julho ou agosto o disco novo está saindo.
Folha - Você já definiu como será o novo disco?
Paulinho - Ainda não. Mexo muito, mudo muita coisa. Trabalho até dentro do estúdio. Em 83, as gravações de "A Toda Hora Rola Uma História" estavam marcadas e não sabia por onde começar.
Tomei uma decisão. Ia chegar no estúdio e dizer: não quero gravar. Ao mesmo tempo aquilo me deu uma revolta, as idéias estavam ali. Passei uma noite sentado na sala, olhando pela janela. Vi o dia clarear.
Folha - Por que você não gosta de preparar seus discos?
Paulinho - Vou dar um exemplo. Em "Eu Canto Samba" tem uma música que gosto muito, mas nunca cantei ao vivo, "Pintou um Bode". Ela foi composta pensando em Ciro Monteiro. Todos gostavam da gravação mas tinha uma coisa me incomodando, eu não sabia o que era. Muito tempo depois, estava em casa distraído e comecei a assobiar o samba. Na segunda parte, fiz uma modulação diferente. Descobri o que me incomodava e isso me deu raiva. Não tinha como mudar.
Folha - Depois da polêmica em torno do pagamento do seu cachê na festa do réveillon e do rompimento de sua amizade com Gilberto Gil, você ficou recolhido em casa. Como foi esse período?
Paulinho - Sobre réveillon não quero falar mais nada, já está tudo falado. Fiz uma reflexão longa sobre isso. No momento foi desagradável ficar exposto da forma que ficamos. Hoje garanto que amadureci. Uma das lições é que agora vou falar o menos possível.
Folha - No início do ano chegou a se comentar que você estava em depressão.
Paulinho - Não houve isso. Eu não tive uma depressão. Eu tive uma decepção. É evidente que uma superexposição dessas mexe com qualquer pessoa, mas não fiquei deprimido.
Folha - Você falou em amadurecimento com esse processo. Você acha que foi inocente na negociação dos cachês?
Paulinho - Não sei. Se não houvesse essas coisas na vida, a gente não acordava.
Folha - Na época da briga a Rede Globo cogitou fazer um especial reunindo você, Chico Buarque, Gal Costa, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gilberto Gil. Seria o especial da reconciliação. Você foi procurado para isso?
Paulinho - Não, não houve nenhum contato.
Folha - Você faria um especial ao lado desses artistas?
Paulinho - Não.
Folha - Gal Costa, que havia anunciado no final do ano passado que gravaria um disco com músicas suas, desistiu do projeto. O que você acha disso?
Paulinho - Ela disse que faria esse disco, mas não sei do cancelamento.
Folha - Mas depois do rompimento, você encontrou ou conversou com algum deles?
Paulinho - Não. E acho melhor não falar mais nada disso.

Texto Anterior: Thomas se torna aceitável, com 'Nowhere Man'
Próximo Texto: Telespectador decide filme que quer ver na TV Globo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.