São Paulo, terça-feira, 2 de abril de 1996
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Preferência pela repressão?

BISMAEL B. MORAES

Seria a incidência de crimes um fator de desenvolvimento e progresso, a ponto de ser alimentada ou consentida? Parece que assim alguns pensam, porque, em vez da prevenção por todos os meios possíveis, demonstram preferência pela repressão, sem levar em conta prejuízos humanos e materiais.
Se a repressão não conseguiu até hoje diminuir a criminalidade, não é hora da aplicação metódica de um sistema preventivo?
Que tal começar por um policiamento cuja estatística mostre um número de infrações penais evitadas, e não os crimes ocorridos e registrados, para apuração posterior, lotando delegacias, cárceres e fóruns criminais? Não seria mais razoável que os fatos não ocorressem porque o policiamento preventivo cumpriu seu papel?
Assim, aparelhar um organismo policial -pessoas, veículos, armas e máquinas- para chegar ao local do crime consumado, tendo que correr atrás do delinquente é querer transformar o policial em mocinho de cinema, demonstrando visão totalmente desfocada do que seja segurança pública!
Não basta colocar o policial numa viatura e mandar-lhe cumprir x horas de serviço, sem planejar o patrulhamento de modo a que nenhuma rua fique sem polícia, pelo menos, a cada meia hora.
É só mapear a área a ser policiada e não permitir que a viatura pare, exceto para atendimento público ou abastecimento. A própria falta de veículo não deve ser argumento para que o policial fique na unidade, apenas cumprindo horários.
Se não há viatura, sobram pernas. Em cinco ou seis horas de policiamento a pé, quantas ruas pode um policial preventivo-ostensivo bem treinado percorrer? A simples presença do policial uniformizado, psicologicamente, induz a prevenção.
Rudimentar a quem a estude a polícia, una em sua origem, tem sua divisão perfeita desde a Revolução Francesa: um ramo fardado, ostensivo, para prevenir os delitos e manter a ordem; outro, civilmente trajado, para investigar e apurar crimes que não foram evitados. Se cada ramo cumprir a sua parte, evitando inversões, o Estado economiza e a sociedade ganha.
Dar segurança não é combater o crime, mas prevenir para que este não ocorra. Combate-se o que está ocorrendo, e isso é insegurança, é falha do órgão estatal.
Serviço público essencial a qualquer forma de Estado no mundo, seria bom se os governantes se preocupassem de fato com a polícia, administrando-a como um bem social, para que ela, planejada e amparada, pudesse produzir a segurança que todos merecemos.

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