São Paulo, terça-feira, 2 de abril de 1996
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O mérito de Dornbusch

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - As declarações de Rudiger Dornbusch sobre a economia brasileira causaram uma enxurrada de besteiras na mídia.
Ontem, um locutor de rádio afirmou que o economista alemão sugeriu uma maxidesvalorização do real. Outro, que Dornbusch recomenda abandonar o controle da inflação.
Não é nada disso. Dornbusch acha que a inflação já está sob controle. Recomenda ao governo preocupar-se com outras prioridades, que façam o país crescer mais.
As considerações de Dornbusch permitem duas interpretações. Uma que dificilmente alguém seria contra: que o Brasil ainda é um país miserável e precisa crescer e distribuir sua riqueza. A outra é que o economista-viajante não entende muito do que fala.
O Plano Real não tapou o abismo entre ricos e pobres. Houve melhora, mas qualquer calouro nos cursos de economia sabe que apenas uma moeda estável não é suficiente.
Com a estabilidade, os pobres estarão melhores. Os ricos, também. E assim ficarão, separados. Esse problema é secular e Dornbusch não disse nenhuma novidade.
O problema do economista é que soltou uma besteira sem tamanho ao afirmar que a inflação no país está sob controle. Só fala isso um viajante, alguém que não viveu seguidamente no Brasil nos últimos 20 anos.
A inflação e a memória inflacionária estão vivíssimas no país. Um descuido pode ser fatal. Não ocorreu ainda, como dizem os economistas, a recomposição dos preços relativos.
Por exemplo, hotéis na mundialmente conhecida cidade goiana de Pirenópolis cobram cerca de R$ 850 por casal para os três dias do feriado de Páscoa. Os brasileiros ainda não conhecem o valor do dinheiro. E isso vai demorar muito para conhecerem.
Quanto a Dornbusch, apesar da bobagem dita sobre a inflação, há um mérito em sua interpretação. É mais uma voz contra a falta de projeto do governo FHC.

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