São Paulo, terça-feira, 2 de abril de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mico

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Ano passado, fui incumbido de traçar o perfil do polêmico chefe da polícia do Rio, delegado Hélio Luz. Cabeludo e barbudo, pinta de cientista social, Luz se diferenciava -e ainda se diferencia- do tira clássico por suas maneiras de encarar os problemas da corporação que dirige.
Impressiona, de cara, por sua visão realista da corrupção policial, por exemplo. Principalmente quando separa a polícia em "banda podre", a corrupta, que deve ser combatida, e a "banda boa", eficiente e que deve ser premiada.
Nesse sentido, citava como exemplo de recuperação a Divisão Anti-Sequestro, que, segundo suas próprias palavras, "não sequestra mais".
Essa visão acarretou a Luz inimigos e desafetos. E estes devem estar comemorando, hoje, o vexame que o delegado vive justamente por causa de sua disposição em apostar na tal "banda boa".
No último fim-de-semana o diretor da Divisão prendeu em flagrante dois investigadores do próprio órgão quando tentavam extorquir R$ 30 mil do advogado de um suposto traficante que havia sido preso pelos policiais.
O rapaz não tinha ficha na polícia, contra ele não houve flagrante e inexistia mandado de prisão. Portanto, fora sequestrado pela polícia anti-sequestro!
O mais constrangedor disso tudo: os dois policiais civis -havia mais dois, militares, envolvidos no crime- foram condecorados por "bravura" pela cúpula da polícia em janeiro deste ano. Serviam de exemplo para a filosofia de Luz.
Filosofia que parte de premissas corretas do ponto de vista formal, mas que carece de sustentação prática. Principalmente não levar a cabo uma condição fundamental para a atividade policial: definir claramente quem é bandido de quem não é.

Texto Anterior: O mérito de Dornbusch
Próximo Texto: Os riscos da embalagem
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.